PROFECIA, CAUSA E MEL
Recordando o amigo, companheiro, irmão e venerável Gisley
Quando contemplamos aquele capinzal enorme à beira da estrada, perto de Brazlândia, destinado para esconder nosso irmão Gisley, ele (o capinzal) cumpriu uma missão: deixar nas entranhas dele manchas de sangue de alguém que ia aprendendo a amar a juventude, embora já a amasse tanto que deu a vida por ela.
Já vivenciamos um ano do passamento de Gisley e, pensando no que ele foi no meio de nós, há três palavras que nos fazem alegrar e desafiar o coração. Gisley foi, em primeiro lugar, PROFECIA. Profecia como Gisley, como religioso, como cidadão e como amante da juventude. Como ecoa em nossos ouvidos o “basta de violência”, o “basta de extermínio” que ele proferiu na hora que Deus quis. Melhor do que nós, Gisley, você está vendo como nossa Igreja, nossa Vida Religiosa, nossa Evangelização da Juventude precisam redescobrir o trilho da profecia. Envie-nos a coragem e a determinação dos profetas.
A segunda palavra que Gisley faz reviver, é CAUSA. Todos vimos como essa causa foi crescendo nele. Numa plantinha pequena foi-se revelando, aos poucos, um pé de jatobá. Dizem que houve um tempo em que você, Gisley, não queria saber muito de “batalhas”, mas a semente do jatobá recebia de seu coração vibrante a água de sua sinceridade. Você resolveu, até, fazer uma pós em juventude. Quem diria que naquele aluno sorridente, falador, mas quieto (porque gostava de sussurrar...), brotaria, um dia, o assessor que você foi. O convite desse ministério o assustou e custou o seu coração dizer um “sim” porque talvez intuísse as conseqüências de sua bondade, mas que nunca mais morreu.
Há, contudo, uma terceira palavra que se identifica com você. Poderíamos falar de VINHO, de ALEGRIA – todas muito significativas para o que você viveu - mas achamos que a palavra que diz mais de você, é MEL. No pouco tempo que esteve conosco, neste ministério da assessoria, a palavra “mel” diz muito. Todos, de modo especial a juventude, já convivia, para você, demais com o fel vindo de muitos espaços, e você compreendeu e decidiu: “sejamos mel”. O mel atrai, faz bem para a saúde e num mundo comandado por um neoliberalismo e uma pós-modernidade, todos precisamos de mel. E o mel se aproxima de vinho e de alegria. Quem não recorda a cara de “bem com a vida” de Gisley? Cara de vinho e de alegria... Cara de mel.
Voltando para o capinzal de Brazlândia, estas três palavras devem estar enterradas naquela cruz de beira-de-estrada. Pena que, de vez em quando, somos cegos e não sabemos enxergar o que as paisagens escondem. Em sua honra queremos plantar em nosso jardim três flores chamadas “profecia”, “causa” e “mel” que vamos cultivar para a vida que você, Gisley, nos ensinou.
Pe. Hilário Dick, sj
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