Refletindo a vida juvenil...
As cruzes dos jovens
A Cruz é o símbolo das Jornadas Mundiais da Juventude desde 1985. A Cruz é simples. Já exibe as marcas das muitas viagens percorridas. Falar de “Cruz”, para o cristão, é falar de um dos símbolos mais profundos e emocionantes. Ela está unida, essencialmente, à ressurreição, assim como a morte vai unida à vida. A “Cruz” se torna dramática quando se torna mais importante que a ressurreição. Na visita que o Papa Francisco fez à favela da Varginha, pensando em juventude, ele afirmou: Queria dizer uma última coisa. Uma última coisa! Aqui, como em todo o Brasil, há muitos jovens. Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo com o bem.
Precisamos conscientizar-nos de que é mais importante falar das cruzes dos jovens, do que fazer que os jovens carreguem outra cruz pelas estradas de nossas dioceses. Na mala de nossos sonhos precisamos carregar as cruzes dos jovens brasileiros, latino-americanos e de todo mundo. O documento de Aparecida fala de 11 delas: 1) as sequelas da pobreza; 2) a socialização de valores com forte carga de alienação; 3) a permeabilidade às novas formas de expressões culturais, afetando a identidade pessoal e social do jovem; 4) o fato de os/as jovens serem presa fácil das novas propostas religiosas; 5) as crises da família provocando, na juventude, profundas carências afetivas e conflitos emocionais ; 6) a repercussão de uma educação de baixa qualidade; 7) a ausência de jovens na esfera política devido à desconfiança que geram as situações de corrupção, o desprestígio dos políticos e a procura de interesses pessoais frente ao bem comum; 8) o suicídio de jovens; 9) a impossibilidade de estudar e trabalhar; 10) o fato de os/as jovens terem que deixar seus países dando ao fenômeno da migração um rosto juvenil”; 11) o uso indiscriminado e abusivo da comunicação virtual. Sabemos que há outras cruzes como a baixa autoestima, o medo de morrer, o medo de sobrar, o medo de “ficar por fora”, o medo da AIDS etc. São cruzes de todo dia e cruzes que não se dizem.
O Papa Francisco, com palavras que ecoaram por toda a praia de Copacabana, falando de cruz e das atitudes diante da cruz, interpelou os jovens por outro ângulo. Ele perguntou: Vocês querem ser como quem? Digam-me: vocês são daqueles que lavam as mãos, fingem não ver e olham para o lado, ou são como o Cireneu, que ajuda Jesus a levar aquele pesado madeiro, como Maria e as outras mulheres, que não têm medo de acompanhar Jesus até o final, com amor, com ternura? Por fim, disse: Jesus está olhando para você agora e lhe diz: você quer me ajudar a carregar a cruz? Irmão, irmã, com toda a sua força jovem, o que você lhe responde?
Conhecer a realidade juvenil
É preciso partir da realidade. Só ama quem conhece. A encarnação de Jesus de Nazaré é uma das grandes aulas de pedagogia que Deus nos deu e dá. Isso vale de modo especial para quem trabalha com a juventude e, até, para a juventude. Para um evento tão importante, como é a JMJ, não se pode ir somente, com dinheiro, no peito e na raça. É preciso cultivar o conhecimento da realidade juvenil. Coisas vistas, coisas lidas, coisas estudadas; coisas pesquisadas. Passou o tempo em que bastava ser do clero para se entender de juventude... O sair de si mesmo para ver “outros mundos” nem sempre é tão fácil. Ser jovem é viver a epopeia do êxodo. O Papa disse que é hora de sair da sacristia e ir para a rua. Em termos teológicos, é o nascimento da vocação missionária que vive em cada jovem. Por isso que se fala de “conhecer” e “tornar-se conhecido”. Não se imagina uma juventude adormecida, sem querer ver a realidade que a rodeia. A JMJ deveria ser um momento privilegiado de as juventudes se encontrarem, não como massa de manobra, mas como “povo” que carrega em si novidades para toda a sociedade. Não basta saber falar de Deus, da Igreja, dos sacramentos etc. É preciso comungar com a realidade juvenil, o que significa mais do que marcar presença.
Preocupam dois fatos: ver que, nas pessoas da Igreja, o conhecimento da juventude parece ser uma espécie de “ciência infusa”: a gente sabe o que é juventude, não é preciso estudar; segundo, ao mesmo tempo em que em muitas partes a juventude é levada mais a sério, com cursos, pós-graduações, pesquisas, publicações... no espaço da Igreja se dá um estranho abandono desse campo: ao mesmo tempo em que o clero (em geral) se afasta mais dos jovens, a dedicação ao estudo da evangelização da juventude (com tudo o que isso significa) também vai decrescendo e, até, é mal vista.
Novos sonhos
Um grande evento, carregado de emoções e ideias, faz e deve fazer brotar utopias. Jovem que não sonha, é velho. Pessoas que trabalham com jovens e não veem neles/as, sonhadores/as, está no lugar errado. Adultos que não se animam a sonhar junto com os/as jovens não estão vivendo a opção pela juventude. Uma sociedade que acha que “já chegou”, não gosta de quem sonha. Bonito ler o profeta Joel dizendo que “entre vocês, os velhos terão sonhos e os jovens terão visões” (Jl 3,1) porque todos conhecerão o projeto de Deus.
O Papa disse, no Rio de Janeiro, que não saberia dizer o que os jovens queriam dizer com as manifestações que houve em muitas cidades do Brasil (assim como também houve fatos semelhantes na Turquia, na Espanha, no Chile...) mas afirmou: “Com toda franqueza lhes digo: não sei bem porque os jovens estão protestando... Um jovem que não protesta não me agrada. Porque o jovem tem a ilusão da utopia, e a utopia não é sempre ruim. A utopia é respirar e olhar pra frente. O jovem é mais espontâneo, não tem tanta experiência de vida, é verdade. Mas às vezes a experiência nos freia”. Utopia e sonho se encontram; utopia e jovem são irmãos; a utopia faz sempre nascer o novo.
Sonho tem muito a ver com “análise de conjuntura”, também da realidade juvenil; sonho tem muito a ver com profecia. Será que milhões de jovens, trazendo na mala as diferentes realidades de seus países, conversando sobre elas, partilhando o que passa no mundo das juventudes, não poderiam transformar as JMJ num grande grito de profecia? Se as JMJ não servirem para fazer novos sonhos, se elas não insistirem em novos sonhos, deveriam ser riscadas do mapa. O “novo céu e a nova terra” (Apc 21,1) precisam da juventude porque ela, de forma muito especial, sabe que o universo sonha ser “a tenda de Deus com os homens”, onde “as coisas antigas têm que desaparecer”. O sonho, contudo precisa da realidade e de referências.
ENCANTAR-SE PELA JUVENTUDE
Ser encantado pela juventude é amá-la, estar perto dela, ser curioso com o que sucede com ela, estudá-la, dar a vida por ela, escutá-la. É ser apaixonado por ela. Comer com ela do mesmo pão... No mesmo sermão de Copacabana o Papa dizia: Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. Estamos falando de um compromisso com a vida da juventude. Compromisso que passa por uma pastoral de processo, pelo cuidado com os/as jovens, pelo respeito à juventude, pelo conhecer a realidade juvenil, pelos sonhos jovens (sonhos de Deus), pela opção de conhecer e carregar com os/as jovens suas cruzes e pelo encanto por ela.
É muito bonito, igualmente, ouvir o Papa Francisco falando aos voluntários da JMJ 2013, no dia 28 de julho, desafiando-os a serem revolucionários: Em vista disso eu peço que vocês sejam revolucionários, que vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, que não são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. Tenham a coragem de ser felizes!
Fonte: Fragmentos do texto de Hilário Dick.
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