quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Brasil tem como principal causa de morte entre jovens o homicídio





Entre os países da América Latina, a Argentina, Chile e Uruguai têm os assassinatos em 12ª colocação, enquanto na Europa Ocidental, que inclui países como Inglaterra, França e Espanha, as mortes violentas ficam em 50ª lugar
30.01.2013 -  Brasil tem como principal causa de morte entre jovens o homicídio
Foto: Tânia Rêgo/ABr
Reportagem é de Viviane Tavares e publicada pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz)
Em quase todos os países do mundo, assim como no Brasil, as principais causas de mortes entre as pessoas são doenças como as cardíacas, isquêmicas, acidentes vasculares cerebrais, câncer, diarreias e HIV. Mas, outro fator vem ganhando as primeiras posições nas últimas décadas: o da violência. Segundo dados da Vigilância de Violências e Acidentes do Sistema Único de Saúde (Viva SUS 2008-2009), o homicídio tem ficado em terceiro lugar do ranking de causas de mortes dos brasileiros e, estratificando-se pela faixa etária de 1 a 39 anos, este número alcança a primeira posição.
Ratificando este índice, de acordo com a pesquisa Global Burden of Disease (GBD) – Carga Global de Doença, em português, publicada neste mês pela revista inglesa The Lancet e organizada pela Universidade de Harvard, dos Estados Unidos, o Imperial College, de Londres, e a Organização Mundial da Saúde (OMS), o fator violência é apontado como a principal causa de mortes entre jovens no Brasil e Paraguai. Entre os países da América Latina, a Argentina, Chile e Uruguai têm os assassinatos em 12ª colocação, enquanto na Europa Ocidental, que inclui países como Inglaterra, França e Espanha, as mortes violentas ficam em 50ª lugar.
Dados nacionais desenvolvidos pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência daRepública (SDH), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Observatório de Favelas e o Laboratório de Análise da Violência (LAV-Uerj) divulgados no mês de dezembro de 2012 destacam a parte deste número de homicídios que acontece ainda na adolescência. De acordo com o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), criado em 2007 por estas instituições, o número de mortes entre jovens de 12 a 18 anos vem aumentando ao longo do tempo. Para cada mil pessoas nesta faixa etária, 2,98 é assassinada. O índice em 2009 era de 2,61. Este índice representa cerca de 5% dos casos de homicídio geral. Entre as principais causas de homicídio está o conflito com a polícia. E o estudo aponta uma expectativa não muito animadora: até 2016 um total de 36.735 adolescentes poderão ser vítimas de homicídio.
Para Luiz Eduardo Soares, cientista político e especialista em segurança pública, esse quadro já não é novidade para quem estudo o assunto, mas traz uma reflexão urgente. “Há 20 anos estamos vendo este cenário se repetir. E é isso que o torna cada vez mais grave porque sabemos quem são as vítimas, mas não somos capazes de ajudá-las, de reverter estas estatísticas”, lamenta.
Doriam Borges, do LAV-UERJ e um dos responsáveis pelo levantamento do IHA, explica que o índice de homicídios entre os jovens expressa a metamorfose que a violência vem sofrendo ao longo do tempo. “Nas décadas de 1960 e 1970, a violência era caracterizada por assalto a bancos e, embora houvesse homicídio e latrocínio, o número era menor. Atualmente, o tráfico de drogas nacional e internacional foi ganhando força no país, mas o que é mais relevante é o aumento do tráfico de armas e a facilidade de acesso a estes instrumentos”, explica.

Além de idade, as vítimas têm cor
Em artigo publicado pela Carta Capital em agosto do ano passado, ‘A violência contra jovens negros no Brasil’, o especialista em análise política pela Universidade de Brasília (UNB) e ex- consultor da Unesco e da Fundação Perseu Abramo para o tema das relações raciais e de juventude, Paulo Ramos, aponta que o diagnóstico apresentado ao Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) pelo Governo Federal, baseado no DataSUS/Ministério da Saúde e no Mapa da Violência 2011, mostra que em 2010 morreram no Brasil 49.932 pessoas vítimas de homicídio, um total de 26,2 para cada 100 mil habitantes. Dessas vítimas, 70,6% eram negras. No mesmo ano, 26.854 jovens entre 15 e 29 sofreram homicídio, ou seja, 53,5% do total de vítimas em 2010. Destes 74,6% eram negros e 91,3% do sexo masculino. Paulo Ramos reforça ainda que faltam força e organização política para a mudança deste cenário. ‘Existe uma dissonância entre elementos fundamentais para o êxito de uma ação que vise combater os homicídios de jovens negros. Para estas políticas, quando há orçamento, não há reconhecimento de diferenças; quando o projeto aborda a juventude negra, não há recursos. E quando há reconhecimento com recursos, não existe foco nos jovens mais vulneráveis’, explica, no artigo.
Em entrevista à EPSJV/Fiocruz, o consultor relembrou que estes índices de violência aos jovens negros vêm sendo apontados há muito tempo pela sociedade civil e por organizações não-governamentais, mas pouco tem sido feito para mudar essa realidade. “Se pegarmos o histórico, em 1968 foi lançado um livro chamado ‘O Genocídio do Negro no Brasil’; uma década depois, em 1978, foi criado o Movimento Negro Unificado, um ato cujo estopim foi a morte de alguns negros em São Paulo. Fora isso, existem iniciativas de comunidades negras como a criação de uma carteirinha contra a abordagem violenta de policiais, entre outras. Apesar disso, continuamos vendo em dados e estatísticas os mesmos resultados. Precisamos ir além para não vermos mais isso se repetindo”, analisa.
A edição de 2012 do Mapa da Violência: ‘A cor dos homicídios no Brasil’ desenvolvido pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, Secretaria de Políticas de promoção de Igualdade Racial e a Flacso Brasil mostra que este índice está aumentando ao passar das décadas. A pesquisa mostra que entre 2002 e 2010, segundo os registros do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), morreram  no país 272.422 cidadãos negros, com uma média de 30.269 assassinatos ao ano. Além disso, destaca ainda o ano de 2010 como o mais crítico, por ter um somatório de 34.983 mortes por essa causa.
“Várias pesquisas há muito tempo têm mostrado que as vítimas são preferencial jovens, negros e solteiros. No estudo realizado pela LAV-UERJ em parcerias com as outras instituições, é possível perceber que os adolescentes negros têm quase três vezes mais chances de serem vítimas de homicídio do que os jovens brancos da mesma faixa etária”, explica o pesquisador Doriam Borges. E completa: “Vivemos em uma sociedade socialmente e racialmente desigual. E elas têm uma relação muito forte. Não é que os negros deveriam ser mais vítimas, mas, por conta de toda essa desigualdade social, eles continuam sendo vítimas porque já são vítimas de tantas outras violências há muito tempo”.

Violência e políticas públicas
O relatório do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva SUS), a ser divulgado no início deste ano, mostra que os indivíduos do sexo masculino representaram a maior proporção dentre os atendimentos de casos de violência realizados pelo SUS, totalizando 71,1%. Além disso, ele estratifica, evidenciado que a faixa etária de 20 a 30 anos concentra 34,8% deste montante; e os atendimentos envolvendo pessoas com cor da pele parda e preta são de 51,4% e 17,8%, respectivamente.
Deborah Malta, coordenadora de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, explica que o Ministério tem feito diversas estratégias para dar suporte à implementação de políticas públicas nessa área. “Enquanto política setorial, temos reportado as ações sobre mortalidade, apoiando os estados para que desenvolvam projetos específicos de prevenção, proteção e vigilância. Além disso, o Ministério da Saúde vem desenvolvendo projetos de capacitação de equipes de saúde em relação a acidentes e violência e ao trabalho de notificação de vítimas de violência. Mas, como a compreensão deste tipo de violência está muito relacionada a um conjunto de questões sociais, muitas vezes extrapola a capacidade de intervenção e de dar respostas do setor de saúde”, explica.
No entanto, Paulo Ramos critica a falta de políticas públicas, especialmente de saúde, focadas nesta população negra. “Hoje o Ministério da Saúde desenvolve ações para as mulheres, que acabam atendendo às necessidades das jovens negras, mas políticas especificamente para os homens não existem”, analisa.
Doriam Borges concorda que as políticas públicas existentes hoje são muito abrangentes e que precisam ser mais focalizadas a públicos específicos. “É preciso em primeiro lugar uma política séria de desarmamento. A chance de os jovens morrerem por arma de fogo é muito maior do que por outros meios. Além disso, é importante que se criem políticas específicas de prevenção e redução de homicídios contra adolescentes e jovens, que é o público alvo. Não temos políticas específicas de violência letal. Temos algumas políticas mais abrangentes, como as de segurança pública, mas, muitas vezes, as políticas públicas de segurança acabam sendo mais reativas, e nós precisamos de políticas preventivas na área de letalidade de juventude”, comenta. De acordo com a pesquisa do IHA, o risco de morte com arma de fogo entre adolescentes é seis vezes maior do que por outros meios.
Como forma de orientar políticas públicas mais específicas, as instituições responsáveis pelo IHA também criaram o Guia Municipal de Prevenção da Violência Letal contra Adolescentes e Jovens com intuito de proporcionar uma metodologia de orientação aos gestores municipais na elaboração de políticas públicas voltadas para a redução da violência desta faixa etária. “Nesse guia, damos algumas orientações sobre como os gestores podem desenvolver políticas públicas. Cada cidade precisa de políticas específicas para suas realidades”, aponta Doriam.

Fonte: http://www.juventude.gov.br/juventudeviva/noticias/30-01-2013-brasil-tem-como-principal-causa-de-morte-entre-jovens-o-homicidio/ 

Aos meus grandes amig@s......




"Um dia a maioria de nós irá se separar. 


Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar quem sabe... nos e-mails trocados.
Podemos nos telefonar conversar algumas bobagens...
Aí os dias vão passar, meses...anos... até este contato tornar-se cada vez mais raro.
Vamos nos perder no tempo... 
Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão? 
Quem são aquelas pessoas? 
Diremos...
Que eram nossos amigos. 
E... isso vai doer tanto!
Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente......
Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um ultimo adeus de um amigo. 
E entre lágrimas nos abraçaremos.
Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. 
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado.
E nos perderemos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: 

Não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!



Texto:  Vinicius de Morais



segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A Juventude e os Incríveis anos 60



Parece incrível, mas os anos 60 exercem fascínio até sobre as gerações de hoje. Não é raro assistirmos a um show de música em que artistas usam modelitos  hippies  e “ressuscitam” canções ou sons daquela época. Ou, ao folhearmos uma revista de moda atual, encontrarmos vestidos tubinhos, calça de  boca  larga,  túnicas  indianas,  maiôs  de  crochê,  mochilas  e  sapatos inspirados nas cores valorizadas pelas tendências da moda daqueles anos. Isso tudo talvez se explique pelo fato de os anos 60 serem identificados como  a  década  da  rebeldia,  da  revolução  sexual  e  de  costumes  e, principalmente,  da  participação  dos  jovens  na  política  e  em  todas  as mudanças.

OS ANOS 60 E A JUVENTUDE BRASILEIRA

No início da década de 60, a modernização do Brasil e o desenvolvimento das telecomunicações  tinham  causado  o  crescimento  das  cidades  e desenvolvimento de uma cultura urbana, sintonizada com os acontecimentos políticos, sociais e culturais de outros países.

O  rock’n’roll e a música  pop internacional conquistaram amplas parcelas da nossa juventude desde o final dos 50, influenciando posteriormente cantores e compositores da jovem guarda e do tropicalismo. Junto com a música dos Beatles e dos Rolling Stones chegavam ao País novos costumes e uma nova moda:  cabelos  compridos  e  calças  justas  para  homens,  minissaias  para mulheres,  o  uso  de  drogas  alucinógenas  e  o  questionamento  de  valores tradicionais, como a virgindade e o casamento. A segunda metade da década de 60 foi a época do lema “Paz e Amor”, bandeira do movimento hippie.

Nos filmes do cinema novo e nas peças do Teatro de Arena e do Teatro Oficina,  jovens  artistas  brasileiros  procuravam  uma  nova  estética  que as transformações que o País vinha sofrendo, ao mesmo tempo que a televisão se tornava uma presença cada vez mais influente nos lares
brasileiros.

Foi também uma década de ativa participação política da juventude. 

Em 1967, o guerrilheiro Ernesto “Che” Guevara foi morto na Bolívia ao tentar implantaruma guerra de guerrilhas semelhante à que tinha sido vitoriosa em Cuba em 1959. Depois de morto, Guevara tornou-se um ídolo para os jovens brasileiros que lutavam contra o regime militar. Em 1968, os movimentos de protesto
realizados  por  jovens  (principalmente  estudantes)  explodiram  em  todo  o mundo. Nos Estados Unidos,  protestava-se contra a guerra do Vietña. Na França os estudantes ocupavam  as universidades e tentavam  aliar-se aos trabalhadores para derrubar o governo. No Brasil, passeatas contestavam o poder dos militares.

A década se encerrou, no Brasil e no  mundo, com um sabor de derrota para juventude: as rebeliões foram sufocadas, a guerra do Vietña continuou por mais alguns anos. Os governos conservadores ficaram mais fortes. Será que “o sonho acabou”, como declarou o ex-beatle John Lennon em 1970, depois da dissolução do conjunto?

Fonte: http://www.toojoaocferreira.seed.pr.gov.br/redeescola/escolas/27/2790/56/arquivos/File/aanos_60.pdf

A Juventude dos Anos Dourados


Historicamente, os anos 50 ficaram marcados como os anos do “pós-guerra”, o que significou o fim da escassez de bens de consumo em geral. A seguinte análise tem como objetivo mostrar o panorama da sociedade nos anos 50 e a relação da juventude com essa sociedade valorizadora de seu passado. A partir daí, iniciaremos nossa análise mostrando a tradição em construção. Adiantamos que é uma juventude que inicia seus movimentos de contestação direta, através de um comportamento, e que essa mesma juventude está em formação, que se dará completa em Maio de 68. Optamos analisar o comportamento, desde suas vestimentas até a mudança do imaginário que estes jovens possuíam.
Chama-se de “Anos dourados” o período que focaliza essa análise. Seu início se dá no fim da 2ª Guerra Mundial e perpassa boa parte do período da Guerra Fria. Conceitualmente, é caracterizada por representar uma vitrine da boa vida diante do mundo atrasado e vermelho da União Soviética. É um retorno a um período de estabilidade, onde a tradição volta a ser aplicada. Focalizando nosso estudo no espaço estadunidense, percebemos a (re)construção do “American Dream”. Reconstrução porque o que se dá na sociedade estadunidense, neste período, é um retorno às formas tradicionais de vida, abaladas pela Grande Guerra. O antigo sonho americano passa a ser apresentado ao mundo como o “American way of life”(1), dessa vez aparado pelos avanços tecnológicos, sobretudo de eletrodomésticos, automóveis e cosméticos, que o capitalismo podia oferecer. Tratava-se do triunfo da modernidade aliado aos valores morais burgueses tradicionais.
Um exemplo claro dessa afirmação se encontra na vida feminina deste período. Se num primeiro momento, o da Grande Guerra, essas mulheres apoiavam os seus esposos participando ativamente da defesa de seus países, durante os anos dourados, haverá o retrocesso ao comportamento feminino. A mulher deveria ser bela e bem cuidada, casar-se cedo, possuir filhos, ser uma boa mãe, saber cuidar de seu lar, enfim, percebe-se um retorno ao que antes era concebido como papel fundamental da mulher. É claro que isso não surge como uma medida imposta. O que se vivia era o conforto do fim da Guerra.
O período de opressão e tensão que o ambiente em guerra trazia havia se desmanchado diante da sociedade estadunidense. Não há mais a ameaça direta da invasão nazista, ou o temor do eixo do mal. Vive-se um novo período. Talvez pior, por conta de essa tensão não conseguir se expressar explicitamente.
Daí denominarmos esse instante como “Guerra Fria”. A guerra estava em mostrar ao mundo qual o melhor estilo de vida: o capitalista ou o socialista. Nesse aspecto, o ideal de conforto que o capitalismo e a sociedade de consumo esbanjavam era potencializado ao máximo. Surgem para essas mulheres o aspirador de pó, a máquina de lavar, tudo para facilitar a vida dessas novas mulheres, e a sua aparente felicidade. E para sustentar e gerar o consumismo dessa sociedade.
Dona de casa da década de 50.
GARCIA, Claudia. Almanaque da Folha. Anos 50. 2000.

A própria vestimenta é influenciada por esse novo ideário de vida. Com o fim dos anos de guerra e do racionamento de tecidos, a mulher dos anos 50, no início da década se tornou mais feminina e glamourosa, de acordo com a moda lançada pelo "New Look", de Christian Dior, em 1947. Metros e metros de tecido eram gastos para confeccionar um vestido, bem amplo e na altura dos tornozelos. A cintura era bem marcada e os sapatos eram de saltos altos, além das luvas e outros acessórios luxuosos, como peles e jóias.
Essa silhueta extremamente feminina e jovial atravessou toda a década de 50 e se manteve como base para a maioria das criações desse período. Apesar de tudo indicar que a moda seguiria o caminho da simplicidade e praticidade, acompanhando todas as mudanças provocadas pela guerra, nunca uma tendência foi tão rapidamente aceita pelas mulheres como o "New Look" Dior, o que indica que a mulher do início da década ansiava pela volta da feminilidade, do luxo e da sofisticação estimulada pela televisão que vendia a idéia do glamour pelo consumo. E foi mesmo Christian Dior quem liderou, até a sua morte em 1957, a agitação de novas tendências que foram surgindo quase a cada estação.
A moda dos anos 50.
GARCIA, Claudia. Almanaque da Folha. Anos 50. 2000.

Com o fim da escassez dos cosméticos do pós-guerra, a beleza se tornaria um tema de grande importância. O clima de sofisticação gerou uma necessidade de cuidar da aparência (alguma semelhança com a atualidade?). A maquiagem estava na moda e valorizava o olhar, o que levou a uma infinidade de lançamentos de produtos para os olhos. Grandes empresas, como a Revlon, Helena Rubinstein, Elizabeth Arden e Estée Lauder, gastavam muito em publicidade, era a explosão dos cosméticos. Na Europa, surgiram a Biotherm, em 1952 e a Clarins, em 1954, lançando produtos feitos a base de plantas, que se tornaria uma tendência a partir daí. Era também o auge das tintas para cabelos, que passaram a fazer parte da vida de dois milhões de mulheres - antes eram 500 -, e das loções alisadoras e fixadoras. Os penteados podiam ser coques ou rabos-de-cavalo, como os de Brigitte Bardot. Os cabelos também ficaram um pouco mais curtos, com mechas caindo no rosto e as franjas davam um ar de menina.
Enfim, essa sociedade do pós-guerra ansiava justamente pelo conforto que a guerra, de fato, havia tirado. Porém, esse relativo conforto teria em paralelo a construção das contestações da juventude. Nesse ponto reside a rebeldia dessa juventude: quando ela contesta valores tidos como absolutos, mesmo que participe do ambiente de construção deles.

Moda: o contraponto do visual rebelde com o glamour da alta costura

Como já vimos brevemente, a construção do ideário de vida perfeita estadunidense foi feita principalmente no mundo da moda. Inicialmente, a alta costura ganha força, quando se busca viver a bonança de um novo período.
O mundo econômico permitia essa construção. Afinal, desde o final da guerra, os Estados Unidos já se lançavam como potência hegemônica na sociedade capitalista ocidental, sendo o único representante e defensor da aparente liberdade que esse regime apresenta (novamente, alguma relação com a sociedade de hoje?). Essa hegemonia, inclusive, encontrava-se no mundo militar. Lembremos que as bombas nucleares foram lançadas pelos estadunidenses e mostravam a força militar desse jovem país em crescimento.
Nesse aspecto, a sociedade poderia utilizar todos os meios para fazer valer a sua máxima de que se vivia em uma sociedade feliz. A juventude estava nessa sociedade também. Ela também, inicialmente, vai propagar a felicidade pelo consumo. A mudança, pelo menos, no mundo da Moda, pode ser enxergado quando a massificação imposta pela indústria tenta abarcar essa aparente feliz sociedade.
É necessário entender que a construção do tradicional se dá em paralelo com os movimentos de inocente rebeldia desses jovens. Inocente porque, aparentemente, não havia uma utopia a ser seguida. A luta era pela identidade, pela liberdade de expressão, e sendo os jovens, talvez, a camada mais sensível da sociedade e mais enérgica, eles vão, ao longo da década, contestar a própria educação que tinham.
No ideário de beleza, o cinema teve grande participação. Dois estilos de beleza feminina marcaram os anos 50: o das ingênuas chiques, encarnado por Grace Kelly e Audrey Hepburn, caracterizado pela naturalidade e jovialidade e o estilo sensual e fatal, do qual as atrizes Rita Hayworth, Ava Gardner e as pin-ups estadunidenses, loiras e com seios fartos, são ótimos exemplos. Entretanto, os dois grandes símbolos de beleza da década de 50 foram Marilyn Monroe e Brigitte Bardot, que eram uma mistura dos dois estilos - a devastadora combinação de ingenuidade e sensualidade.
Durante os anos 50, a alta-costura viveu o seu apogeu. Nomes importantes da criação de moda, como o espanhol Cristobal Balenciaga - considerado o grande mestre da alta-costura -, Hubert de Givenchy, Pierre Balmain, Chanel, Madame Grès, Nina Ricci e o próprio Christian Dior, transformaram essa época na mais glamourosa e sofisticada de todas.
Ao lado do sucesso da alta-costura parisiense, os Estados Unidos estavam avançando na direção do ready-to-wear e da confecção. A indústria estadunidense desse setor estava cada vez mais forte, com as técnicas de produção em massa cada vez mais bem desenvolvidas e especializadas. A juventude rebelde adere ao ready-to-wear fazendo uma contraposição à alta costura e ao glamour e consequentemente, ao tradicionalismo.
Essa nova tendência estender-se-ia à Europa e logo o prêt-à-porter nos ateliês dos estilistas começaria a se desenvolver em contraponto à haute couture – que por sua vez não conseguiria manter a mesma abrangência e predominância que obtivera outrora em face a era industrial de confecção, se restringindo a atender uma reduzida elite conservadora que podia bancar os altos preços das roupas sob medida em nome do prestígio e da tradição. Na Inglaterra, por exemplo, empresas como Jaeger, Susan Small e Dereta produziam roupas prêt-à-porter sofisticadas. Na Itália, Emilio Pucci produzia peças separadas em cores fortes e estampadas que faziam sucesso tanto na Europa como nos EUA. Na França, Jacques Fath foi um dos primeiros a se voltar ao prêt-à-porter, ainda em 1948, e logo outros estilistas começaram a acompanhar essa nova tendência, à medida que a alta-costura começou a perder terreno, já no final dos anos 50.
Nessa época, pela primeira vez, as pessoas comuns puderam ter acesso às criações da moda sintonizada com as tendências do momento. A própria corrida espacial e o termo “modernidade” passam a ser utilizados no imaginário social e na construção da moda. A arquitetura também é influenciada por esse novo estilo, assim como o design de carros. O tradicionalismo, antes instaurado pela antiga sociedade do pós-guerra, converte-se numa crescente modernidade nesse período. Dessa forma, a juventude passa a fazer parte de uma relativa massificação, mas não sem buscar sua própria identidade.
Ora, a indústria do jeans passava a crescer. Nesse sentido, a juventude se via massificada mesmo, num primeiro momento. Todos usariam um mesmo estilo de roupa. Porém, é justamente através dessa massificação que se realizará a principal mudança destes jovens. Assim, é a partir desse momento de massificação que o ideário rebelde passa a ser construído. A busca é pela identidade que se pode criar através dessa massificação. A moda começa a ser construída, nesse ponto, como representação individual do jovem rebelde.
O cinema lançou a moda do garoto rebelde, simbolizada por James Dean, no filme "Juventude Transviada" (1955), que usava blusão de couro e jeans. Marlon Brando também sugeria um visual displicente no filme "Um Bonde Chamado Desejo" (1951), transformando a camiseta branca em um símbolo da juventude rebelde que na época da alta costura lança um visual mais “largado” como contestação do que lhes era imposto. Já na Inglaterra, alguns londrinos voltaram a usar o estilo eduardiano, mas com um componente mais agressivo, com longos jaquetões de veludo, coloridos e vistosos, além de um topete enrolado. Eram os "teddy-boys”.
James Dean em “Rebel without a case” de 1955.
MARTINETTI, Ronald. Biografia James Dean. Nova Fronteira. 1996

A partir desses apontamentos, percebe-se que a rebeldia dessa juventude estava principalmente na necessidade de se justificar. Na necessidade de encontrar um caráter em si, de se identificar consigo e não com o que os obrigavam a ser. A relação no mundo da Moda, entendido aqui como fonte de análise, nos revela uma realidade bastante peculiar. É no aproveitamento e na rearticulação do tradicionalismo que se encontra a rebeldia. Afinal, essa rebeldia e seus símbolos são resultados diretos do mundo capitalista emergindo nessa sociedade. Essa nova relação, no espaço do imaginário da moda, cresce e amplia seus, até atingir, em 1960, a Europa, quando passa a contestar uma série de valores. Tal contestação generalizada culminou no movimento rebelde estudantil de 1968.

Cinema: somente no final da década iniciou-se o movimento de revolução e renovação
A rebeldia que se revela nos anos 50 é uma rebeldia ainda ingênua, que se revelava no cinema, por exemplo, com o filme “Juventude Transviada”, o qual conta a história de Jim Starks, um rapaz de 17 anos que se sente incompreendido pelos pais e segue o caminho da arruaça. Apesar de ter o título inspirado em um livro de Psicologia (Rebel without a cause: the Hypnoanalysis of a Criminal Psycopath, de Robert Linder), o filme não ficou famoso pela sua capacidade de análise antropológica, mas sim pela criação de identidades, mitos e modelos de uma juventude que começava a sair da esfera de uma moral rígida.
O movimento juvenil de rebeldia que ganha força na segunda metade dos anos 50 se manifesta no cinema somente no final da década, influenciado pelo início de uma instabilidade política após mais uma década de estabilidade e crescimento econômico das principais potências imperialistas mundiais. O ano de 1959, quando eclode a Revolução Cubana, é também o ano que marca a reabertura da crise capitalista. Essa crise se refletiria nos mais diversos setores da cultura dos principais países do globo.
Na França surgia no final da década de 1950, uma forte reação cultural ao otimismo superficial e a mentalidade conservadora que dominava a sociedade de então. Movimentos como o existencialismo de Sartre, na filosofia; o abstracionismo informal, na pintura e o nouveau roman na literatura, eram manifestações desta crise. No cinema, a principal expressão francesa desta reação é o movimento heterogêneo conhecido como nouvelle vague (a nova onda), que agrupou cineastas das mais diversas tendências, mas que se identificavam com uma idéia em comum: a de que o cinema tal qual se apresentava em sua época precisava ser radicalmente repensado.A linha de frente deste movimento de renovação formava-se pelos críticos de cinema Bazin, Chabrol, Truffaut, Godard, Demis, Rivette, Rohmer e Resnais.
Filmes como “Os Incompreendidos” de Truffaut e “Acossado” de Godard foram centrais para esse movimento, que durou de 1959 até pouco antes da Revolução Estudantil de 1968 – momento diretamente influenciado pela Nouvelle Vague. Amigos inseparáveis, Godard e Truffaut batalharam intensamente contra a mediocridade francesa do pós-guerra, seus filmes inauguraram um novo pensar. A cultura francesa tão rica outrora vinha se desfacelando, e os críticos/cineastas impuseram através dos seus filmes essa nova abordagem para capturar o diálogo arte/espectador que parecia ter se perdido durante os anos trágicos da guerra.

Literatura: o feminismo de Simone de Beauvoir
A década de 50 nos Estados Unidos é marcada pela imagem da mulher dona de casa, que casa cedo e tem filhos. Boa esposa e mãe, essa mulher tinha como principal atividade os afazeres da casa e se encantava com a infinidade de novos eletrodomésticos que vinham surgindo para facilitar o seu trabalho.
No entanto, o movimento rebelde da década de 50 faz ressurgir o feminismo.
A principal responsável por esse novo vigor do movimento feminista foi a intelectual francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) que manteve um relacionamento de 50 anos com Jean-Paul Sartre e que em 1949 publica o livro “O segundo Sexo”.
Quando surgiu, em 1949, “O Segundo Sexo” causou tanta admiração quanto estranheza. Era uma obra vasta, dividida em dois volumes, bem documentada e alicerçada na lógica e no conhecimento muito pouco estudado da mente “feminina”. Tendo como missão pôr a nu a condição feminina, explorava áreas ligadas à situação da mulher no mundo, englobando história, filosofia, economia, biologia, etc., bem como alguns “case studies” e algumas experiências particulares. Simone queria demonstrar que a própria noção de feminilidade era uma ficção inventada pelos homens na qual as mulheres consentiam, fosse por estarem pouco treinadas nos rigores do pensamento lógico ou porque calculavam ganhar algo com a sua passividade, perante as fantasias masculinas. No entanto, ao fazê-lo cairiam na armadilha de se auto limitarem. Os homens chamaram a si os terrores e triunfos da transcendência, oferecendo às mulheres segurança e tentando-as com as teorias da aceitação e da dependência, mentindo-lhes ao dizer que tais são características inatas do seu caráter. 3
Ao fugir a este determinismo, Simone abriu as portas a todas as mulheres no sentido de formarem o seu próprio ser e escolherem o seu próprio destino, libertando-se de todas as idéias pré-concebidas e dos mitos pré-estabelecidos que lhe dão pouca ou nenhuma hipótese de escolha. Assim, a mulher, qualquer mulher, deve criar a sua própria vida, mesmo que seja a de cumprir um papel tradicional, se for esse o escolhido por ela e só por ela.
Em uma sociedade ainda sob o choque das profundas alterações provocadas pela Guerra, a posição das mulheres tinha-se fortalecido pela ausência dos homens, mortos, desaparecidos ou ausentes. Mas Simone lançava um alerta dizendo: “… a Idade de Ouro da mulher não passa de um mito… A sociedade sempre foi masculina e o poder político sempre esteve nas mãos dos homens.”. “A humanidade é masculina” observou ela “… e um homem não teria a idéia de escrever um livro sobre a situação peculiar de ser macho… e nunca se preocupa em afirmar a sua identidade como um ser de um determinado gênero; o fato de ser um homem é óbvio” 2. É importante colocar como ponto de partida para o estudo de “O Segundo Sexo” e do resto da obra de Simone de Beauvoir, o fato que ela, apesar de reconhecer que os homens oprimem as mulheres, não deixa de lhes apreciar as capacidades.
As idéias da escritora vieram de encontro à imagem de mulher difundida pelo tradicionalismo do início da década e colaborou para a tomada de consciência de uma juventude que estava dando os primeiros passos para a revolução sessentista.

Música: Elvis e o rock and roll
O rock and roll surge nos Estados Unidos da América no final dos anos 1940 e início dos anos 1950, com raízes em sua maioria em gêneros musicais afro-americanos, e rapidamente se espalha para o resto do mundo.
A juventude dos anos dourados adotou o rock and roll como estilo musical e elegeu grandes ídolos como, por exemplo, o maior deles, Elvis Presley. A nova música com um contratempo acentuado e um ritmo dançante afirmava ainda mais essa rebeldia surgida na década e trazia uma atitude mais revolucionária. Era uma música rebelde para uma juventude rebelde.
Elvis Presley se tornou um dos maiores ídolos da juventude, sendo mundialmente denominado como o Rei do Rock. Em 1956, Elvis tornou-se uma sensação internacional. Com um som e estilo que, uníssonos, sintetizavam suas diversas influências, ameaçavam a sociedade conservadora e repressiva da época e desafiavam os preconceitos múltiplos daqueles idos, Elvis fundou uma nova era e estética em música e cultura populares, consideradas, hoje, "cults" e primordiais, mundialmente.
Elvis Presley 
Miziara, Ana Flávia. Elvis Presley. São Paulo: Roka, 1996.

Suas canções e álbuns transformaram-se em enormes sucessos e alavancaram vendas recordes em todo o mundo. Elvis tornou-se o primeiro "mega star" da música popular, inclusive em termos de marketing. Muitos postulam que essa revolução chamada rock, da qual Elvis foi emblemático, teria sido a última grande revolução cultural do século XX, já que as bandas, cantores e compositores que surgiram nas décadas seguintes - e que fizeram muito sucesso - foram influenciados, direta ou indiretamente por Elvis.

Uma rápida conclusão desse estudo nos remete ao problema de se identificar uma rebeldia nesse momento de transição – o do tradicionalismo a uma juventude rebelde dos anos 60. Tentamos provar nesse texto a existência dessa rebeldia. O que poderia resumir a rebeldia desses jovens é a busca por identidades. Se, por um lado, eles sofrem todas as conseqüências do retorno do tradicionalismo, da Guerra Fria e do ideário dos anos dourados; essa mesma juventude vai utilizar-se dessas armas para mostrarem ao mundo os seus anseios por identidade. Logo, a construção da rebeldia reside nessa busca por identidade através de meios altamente tradicionais. O paralelismo entre juventude e tradicionalismo é tão forte que, num primeiro momento, não enxergamos essas diferenças. Porém, se não houvesse tamanha busca por identificação, Elvis Presley não seria o rei do Rock, tampouco James Dean conservar-se-ia em nosso imaginário desde a sua morte. Como foi já dito, a juventude dessa década não elaborou seus planos utópicos; todavia, será na década seguinte que ela amadurecerá e encontrará sua voz política contestadora.

Nota
(1)
 Traduzem-se: “American Dream” – Sonho americano; e “American way of of life” – Estilo americano de vida.

Filmes sugeridos:

1. Juventude Transviada
2. Os incompreendidos
Fonte: http://texto2-rej.blogspot.com.br/ 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Um dia na vida do Perfeito Idiota Brasileiro


O texto abaixo é uma versão revisada, atualizada e abrasileirada do Manual do Perfeito Idiota Latino-americano, dos anos 1990.
PIB. Chamemos de PIB. O Perfeito Idiota Brasileiro.
Vamos descrever o dia do PIB. Vinte e quatro horas na vida de um PIB para que os pósteros, a posteridade, tenham uma idéia do Brasil de 2012.
Ele acorda às sete horas da manhã. Tem que preparar o próprio café da manhã. Já faz alguns anos que sua mulher parou de fazer isso para ele, e ficou caro demais para ele pagar uma empregada doméstica.
Ele lamenta isso.  Era bom quando havia uma multidão de nordestinas sem instrução nenhuma que saíam de suas cidades por falta de perspectiva e iam dar no Sul, onde acabavam virando domésticas.
PIB dá um suspiro de saudade. Chegou a ter uma faxineira e uma cozinheira nos velhos e bons tempos. Num certo momento, PIB percebeu que as coisas começaram a ficar mais difíceis. Havia menos mulheres dispostas a trabalhar como domésticas, e os salários foram ficando absurdos.
Para piorar ainda mais as coisas, ao contrário do que sempre acontecera, a última empregada de PIB recusou votar no candidato que ele indicou.
Mulherzinha metida.
Foi por coisas assim que PIB aderiu ao movimento  Cansei, ao lado de ativistas notáveis como Boris Casoy, Hebe Camargo, Agnaldo Rayol e João Dória Júnior. Empolgante o Cansei. PIB quase fora a uma manifestação. Só desistiu porque era sábado e sábado a feijoada era sagrada. O protesto com certeza fora um sucesso.
O povo unido jamais será vencido.
PIB tomou o café na cozinha, com o Globo nas mãos. Assinava o jornal fazia muitos anos. Se todos os brasileiros fossem como o Doutor Roberto Marinho, PIB pensou, hoje seríamos os Estados Unidos. Bonito o choro do Bonner ao anunciar no Jornal Nacional a morte de Roberto Marinho.
Por que ainda não ergueram estátuas para ele?
Com o Globo, PIB iniciou sua sessão de leituras matinais. Mais ou menos quarenta minutos, antes de ir para o escritório.
Leu Merval. Quer dizer, leu o primeiro parágrafo e mais o título porque naquele dia o texto, embora magnífico, estava longo demais. Havia um artigo de Ali Kamel. “Um cabeça”, pensou PIB. “Deve ter o QI do Einstein.” Mas também aquele artigo –embora brilhante, um tratado perfeito sobre o assistencialismo ou talvez sobre o absurdo das cotas, PIB já não sabia precisar — parecia um pouco mais comprido do que o habitual. Deixou para terminar a leitura à noite.
PIB vibrou porque, se não bastassem Merval e Kamel, havia ainda Jabor.
Um gênio. Largou o cinema para iluminar o Brasil com sua prosa espetacular. Um verdadeiro santo. Podia estar com a sala da casa cheia de Oscar.
Começou a ler Jabor e refletiu. “Impressão minha ou hoje aumentaram o tamanho do Jabor?” PIB sacudiu a cabeça, na solidão da cozinha, num gesto de reverência extrema por Jabor, mas também achou melhor deixar para ler mais tarde. Era seu dia de sorte. Também o historiador Marco Antônio Villa estava no Globo. “Os primeiros 18 meses do governo Dilma foram fracassos sobre fracassos” era a primeira linha. Bastava. Villa sempre surpreendia com pensamentos que fugiam do lugar comum.
Como uma terrorista chegou ao poder? Bem, tenho que comprar algum livro de história do Villa. Ele com certeza escreveu vários.
Completou a sessão de leituras da manhã na internet. Leu Reinaldo Azevedo.  Quer dizer, naquela manhã, leu um parágrafo. Na verdade, metade. Menos. O título. Não importava. Azevedo era capaz de mesmerizar toda uma nação com a luz cintilante de meia dúzia entre milhares de linhas que produzia incessantemente. PIB deixava escapar um sorriso de admiração a cada vez que li a palavra “petralha” em Azevedo.
Rei é rei. Um cabeça pensante. Por que será que não ocorreu a nenhum presidente da República contratar esse homem como assessor especial? Se o Brasil bobear, a Casa Branca vem e contrata.
Debate é assim.Medalhinha. Chamar um tal de Nassif de Nassífilis. PIB julgava FHC um banana. Não sabia debater. Bananão. Como FHC podia dizer coisas assim? “Eu não estou aqui para ver o PT se arrebentar. O Brasil precisa de partidos que tenham uma certa história, e o PT tem.” Isso em 2005, quando era o momento de derrubar o lulopetismo. E essa outra? “Por que o mensalão se tornou conhecido? Porque o Roberto Jefferson teatralizou o mensalão.” E essa então? “O Lula, ao invés de renunciar e desistir, disse: eu vou brigar. O Lula foi decisivo naquele momento, em dissipar o mensalão.”
Ba-na-não! Graças a Deus já passou dos 80 e não pode mais atrapalhar o Brasil. O campo ficou livre para o Serra e o Aécio!
Ainda na internet, uma passagem pelo Blog do Noblat. Naquele dia, no blog havia uma coluna assinada por Demóstenes. PIB deu parabéns mentais a Noblat por abrir espaço a Demóstenes, nosso campeão mundial da moralidade, nosso Catão. PIB guardara um texto de Demetrio Magnolli, outro cérebro avançado, em que este prestava um justo tributo à nossa reserva moral no senado. Saíra na edição das 100 pessoas mais influentes da revista Época. Anotou um trecho: “Não é preciso concordar com tudo que ele fala ou faz para homenageá-lo. Demósteneses não é mais um comerciante num mercado em que se trafica influência em troca de cargos ou privilégios. Ele tem princípios e convicções.”
Por que falam tanto do tal do Assange e do Wikileaks quando temos tantos caras muito melhores?
A caminho do trabalho, PIB ligou na CBN. Ouviu uma entrevista com o filósofo Luiz Felipe Pondé. “Meu pequeno carro não contribui para o aquecimento do planeta”, disse Pondé, o nosso Sócrates, o Aristóteles verde-amarelo. Pondé ganhara imediatamente a admiração de PIB quando reclamara dos pobres que estavam congestionando os aeroportos. A última vez que viajara para Miami ficara revoltado com as pessoas inferiores que iam voar.
Bem, preciso anotar aquela. Meu pequeno carro não contribui para o aquecimento global.
Isso o levou a reparar nos ciclistas nas ruas de São Paulo. Cada dia parecia haver mais. Mau sinal. Havia muitas bicicletas no trajeto. PIB sentiu vontade de atropelá-las em grupo e fazer um strike. Odiava ciclistas. Atrapalhavam os motoristas. Tivera vontade de vomitar quando vira a foto de um ciclista inglês de bunda de fora — branca e mole como um pudim —  numa marcha nudista por mais espaço e segurança em Londres para as bicicletas.
Abria uma única exceção: Soninha. Desde que ela continuasse a posar pelada em nome das bicicletas.
Hahaha. Hohoho.
Na CBN ouviu também informações e comentários sobre o mundo. “Prestígio em Paris dá vantagem a Sarkozy nas eleições presidenciais”, a CBN avisou. PIB admirava Sarkozy. Proibir a burca foi um gesto histórico. As muçulmanas deveriam ser gratas a Sarkozy. Elas haveriam de votar maciçamente nele para dar a ele o segundo mandato para o qual a CBN dizia que ele era o favorito.
Os maridos obrigam as coitadas a usar burca.
O tema do islamismo estava ainda em sua mente quando se instalou em seu cubículo de gerente na empresa. PIB refletiu sobre o mundo. Tinha lido em algum lugar que no Afeganistão as pessoas queriam que os soldados americanos fossem embora.  Os afegãos estavam queimando bandeiras dos Estados Unidos. A mesma coisa estava ocorrendo no Iraque. E no Iêmen. Em todo o Oriente Médio, fora Israel.
Ingratos. Como eles não percebem que os Estados Unidos estão lá para promover a democracia e levar a civilização? Os americanos estão acima de interesses mesquinhos por coisas como o petróleo.
Era um perigo o avanço muçulmano. Não que apoiasse, mas PIB entendia o norueguês que matara 77 pessoas por considerar que o governo de seu país era leniente demais com os muçulmanos.
A raça branca está em perigo.
Entretido em salvar a raça branca, PIB não percebeu o tempo passar. Só notou pela fome que já era hora de comer. A opção, mais uma vez, foi pelo Big Mac do shopping, e mais a Coca dupla. Detestava os ativistas dos direitos dos animais porque combatiam os Big Macs. PIB estava tecnicamente obeso, mas na semana que vem iniciaria uma dieta e começaria também a se exercitar.
Fim do expediente. A estagiária estava com um decote particularmente ousado. Talvez estivesse sem sutiã. PIB a chamou algumas vezes para discutir assuntos que na verdade não tinham por que ser discutidos. A questão era olhá-la. Valeu o dia, refletiu. Home office é uma bobagem porque não permite esse tipo de coisa: olhar para meninas gostosas no escritório.
Na volta, mais uma vez foi tomado pela tentação de atropelar os ciclistas. “Quando você deseja muito uma coisa, todo o universo conspira a seu favor”. PIB se lembrou da frase de seu escritor favorito, Paulo Coelho. Então ele desejou muito que as bicicletas sumissem.
Xiitas. 
Algum colunista escrevera isso sobre os ciclistas. PIB não lembrava quem era, mas concordava inteiramente. Os ciclistas são gente esquisita que deve fazer ioga e praticar meditação, suspeitava PIB.
Tudo gay!
Já incorporara para si mesmo a frase genial de Pondé.
Meu carro pequeno não contribui para o aquecimento global.
No churrasco de domingo, ia soltar essa. Teve um breve lapso de inquietação quando se deu conta de que os brasileiros que tanto contribuíam para a elevação do pensamento nacional já não eram tão novos assim, O próprio Merval era imortal apenas pela sua contribuição às letras, reconhecida pela Academia. Então lhe veio à cabeça a juventude sábia e influente de Luciano Huck, e ficou mais sossegado.
A mulher não percebeu quando ele chegou. Não era culpa dela. A televisão estava ligada com som alto na novela da Globo. PIB lera várias vezes que as novelas tinham uma “missão civilizadora” no Brasil. Mais uma dívida dos brasileiros perante Roberto Marinho: a perpetuação das novelas cvilizadoras. A mídia impressa brasileira reconhecia a missão civilizadora na forma de uma cobertura maravilhosa das novelas. Uma vez um leitor da Folha reclamou por encontrar na Ilustrada seis artigos sobre novelas.
O brasileiro só sabe reclamar. E reivindicar. Uma besta!
PIB deu um alô que não foi ouvido. Ou pensou ter dado. Sentou ao lado da mulher, e o silêncio confirmou para ele sua tese: depois de muitos anos de casamento as pessoas se entendem tão bem que não precisam trocar uma só palavra. Nem se tocar. É quando o casamento chega ao estágio da perfeição: ninguém tem que fazer nada. É o estágio superior em que o matrimônio se santifica pela ausência do sexo. A cada quinze dias, PIB tomava Viagra e descarregava as tensões sexuais com uma escorte que cobrava 400 reais.
Tá barato. Um dia ela topa beijar!
Não ligava muito para as novelas civiizadoras. Mas soubera no escritório que Juliana Paes aparecia de vez em quando pelada. Passou por sua cabeça um pensamento rápido.
Talvez eu devesse pedir para a patroa me avisar quando a Juliana Paes ficar sem roupa.
Terminada a novela, era a sua vez na televisão. Futebol. Bacana o futebol passar bem tarde, depois da novela. Provavelmente a Globo pensara nisso para ajudar os pobres que moravam longe e demoravam horas para chegar em casa depois do trabalho.
“Boa noite, amigos da Globo!”
A voz do Brasil se apresentou. “The voice”, pensou PIB em inglês.
Um carisma total o Galvão. Subaproveitado. Devia estar no Ministério da Economia, e não narrando escanteios e tiros de meta.
PIB lera que Galvão estava morando em Mônaco. Sabichão. Ficava muito mais fácil, assim, cobrir a Fórmula 1. Nunca alguém da estatura moral de Galvão optaria por Mônaco para não pagar imposto. Galvão certamente faria bonito na Dança dos Famosos de seu amigo Fausto Silva, o Faustão, outro civilizador, especulou PIB em sua mente criativa.
PIB não torcia a rigor para time nenhum. Era, essencialmente, anticorintiano. Com seu segundo saco saco de pipocas na mão, viu, contrariado, o Corinthians vencer.
Amanhã os boys vão estar insuportáveis.
PIB queria muito ver o Jô.
Era um final de dia perfeito, ainda mais porque antes havia o aperitivo representado por William Waack. PIB achava um privilegio poder ver Waack não apenas na Globo como na Globonews. Os Marinhos podiam cobrar pela Globonews, mas não faziam isso para proporcionar cultura de graça aos brasileiros. PIB zapeava quando Waack dava suas lições na televisão, em busca quem sabe de uma mulher pelada no horário tardio, mas os fragmentos que pescava eram suficientes.
Jô. Não posso perder Jô. Uma enciclopédia. Podia ser editorislista do Estadão. Hoje ele vai entrevistar o Mainardi!
Manhattan Connection era simplesmente obrigatório, embora PIB o dividisse com vários outros enquanto manejava o controle remoto.  Outro dia PIB vira um cara que merecia atenção: Marcelo Madureira. Com sua memória fotográfica, PIB instantaneamente o reconheceu: trabalhara como humorista na Praça da Alegria. Ou na Zorra Total?

PIB bem que queria ver Jô. Ou pelo menos incluí-lo no zapeamento. Duas palavras de Jô valiam por mil das pessoas normais. Faziam você pensar e, além do mais, rir porque o cara tinha um estoque ilimitado de piadas.
Não vejo graça nenhuma no Woody Allen. Mas em compensação o Jô!
Mas não foi possível ver o gordo que ensina e alegra milhões de brasileiros.
PIB acabou dormindo no sofá, do qual sua mulher achou preferível não o tirar, e onde ele roncou tão alto quanto o som da tevê — e teve, como sempre, o sono límpido, impoluto, irreprochável dos perfeitos idiotas.

Fonte: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/um-dia-na-vida-do-perfeito-idiota-brasileiro/ 

                                                                 

domingo, 13 de janeiro de 2013

Juventude: anos 80, anos 2000.


Vai levar tempo o que tempo levou para ser construído ou desconstruído. Falo da juventude de ontem e de hoje. Acaba de ser lançado um filme-documentário – PRO DIA NASCER FELIZ – que, a partir da escola, ouve a voz dos jovens 2000, situando-os em suas realidades, Pernambuco e São Paulo, classe pobre, classe média, classe alta, com escolas semelhantes ao nível social da população. Todos se perguntam sobre o que está acontecendo com a nossa juventude. Por que é assim, violência muitas vezes à flor da pele, pouca capacidade de pensar, poucas mostras de criatividade, um sem sentido na vida, uma desesperança? Que será destes jovens amanhã, depois de amanhã, qual seu futuro?
Se voltarmos pra trás, final dos anos 70 e anos 80, as coisas eram ou pareciam diferentes: jovens com engajamento político, presentes nos grupos de jovens, participantes dos movimentos sociais, cheios de vida e esperança. Eram os jovens gerados pela ditadura. Tinham pouca liberdade, a democracia andava esmagada, o ar para respirar era pouco. Por isso, era preciso lutar, se organizar. Fazia sentido ‘militar’, ser militante, palavras fortes da época. O militante esquecia família, objetivos pessoais, questões menores do dia a dia. Era  construtor do novo e do futuro.
Os jovens foram ativos nas Diretas-Já, foram protagonistas no impeachment de Collor. Não tinham medo de estar na rua, de estar do lado da dignidade e da transformação econômico-social. E se faziam presentes nas pastorais sociais, nos movimentos sociais então incipientes, nas oposições sindicais, nos movimentos de bairros, nas lutas populares. Era tempo de construção. As Universidades fervilhavam, como as Comunidades Eclesiais de Base e os movimentos de luta pela terra que se constituíam. Tinha sentido lutar, tinha sentido doar-se. Anunciava-se algo novo, as possibilidades eram muitas, valia a pena doar parte do tempo, do cotidiano, havia sonhos e utopias.
Os jovens dos anos 2000 são gerados no ventre do capitalismo neoliberal, a partir do início dos anos 90, são as crianças de ontem que viam e viviam a luta dos pais pela sobrevivência. São marcados pela ausência, pela falta de. Primeiro, o desemprego em massa que atingiu todos, pobres, classe média. Depois, o esvaziamento de valores humanos, substituídos pelo individualismo exacerbado, pelo consumismo. “Quem pode mais chora menos”.
O pensamento neoliberal não estimula a solidariedade. Ao contrário, provoca e estimula a competição, afinal o mercado é dos mais fortes, permanece no mercado quem tem competência. O vale-tudo impera. Não há mais sentido em lutar pelo outro ou junto com os outros. Para que se doar, para que participar de associações solidárias? Quando muito, rezo para meu deus resolver os meus problemas imediatos. Cuido das minhas coisas e os outros que se danem. O negócio é ganhar dinheiro e sobreviver, o resto não importa. Daí à violência, porque o desemprego impera, e à droga, porque o sem sentido venceu, é um passo.
Os jovens de hoje são frutos destes 15, 20 anos onde a humanidade e o Brasil entraram numa rota de vazio individualista, marcado pela guerra, pela violência e pela criminalidade. Vai levar tempo para recuperar este tempo. As crianças de hoje,  adolescentes e jovens daqui a uma ou duas décadas, têm chance de crescer sob novos valores, de construir/reconstruir sonhos, de ver que a vida não é só mercado, que é inaceitável o aquecimento global e a destruição da natureza, frutos dos desatinos de uma época sem ética, que só busca o acúmulo e o lucro, despreocupada com o amanhã. Formação de base, (re)educação nas escolas, construção de outros valores na sociedade, compromisso com governos que apontem perspectivas fazem parte de uma jornada que, seguramente, demandará muito trabalho, para a qual nós, um pouco mais velhos e tornados sonhadores quando jovens, não nos furtaremos a dar parte do nosso tempo, da nossa energia. Afinal, há que acreditar no homem e mulher novos e na possibilidade de um mundo e uma sociedade justos e igualitários. A situação como está é que não pode continuar por muito mais tempo.

Fonte: http://www.adital.com.br/site/noticia2.asp?lang=PT&cod=27400 

Selvino Heck
Assessor Especial do Presidente da República do Brasil. Da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política