quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Somos Quem Podemos Ser

Somos Quem Podemos Ser
Composição: Humberto Gessinger




Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Um dia me disseram
Que os ventos às vezes erram a direção

E tudo ficou tão claro
Um intervalo na escuridão
Uma estrela de brilho raro
Um disparo para um coração

A vida imita o vídeo
Garotos inventam um novo inglês
Vivendo num país sedento
Um momento de embriaguez

Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter

Um dia me disseram
Quem eram os donos da situação
Sem querer eles me deram
As chaves que abrem essa prisão





E tudo ficou tão claro
O que era raro ficou comum
Como um dia depois do outro
Como um dia, um dia comum

A vida imita o vídeo
Garotos inventam um novo inglês
Vivendo num país sedento
Um momento de embriaguez

Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter

Um dia me disseram
Que as nuvens não eram de algodão
Sem querer eles me deram
As chaves que abrem essa prisão

Quem ocupa o trono tem culpa
Quem oculta o crime também
Quem duvida da vida tem culpa
Quem evita a dúvida também tem


Somos quem podemos ser
Sonhos que podemos ter

FÉ E POLÍTICA UMA AÇÃO LIBERTADORA

“É por causa do meu povo machucado...”

            Para além de sermos jovens cristãos, animados pela fé de Jesus Cristo, somos indivíduos políticos que deseja e luta pela libertação do povo, sobretudo fazendo a opção em sintonia com toda Igreja e em especial com o Documento de Puebla pelos jovens e pelos pobres. Assim somos convocados a abraçar uma teologia que seja crítica e libertadora, que coloca a proposta de Jesus, o indivíduo e sua relações em evidência visando articular e estimular uma sociedade que seja fundamentada na igualdade, no anúncio e na prática libertadora.
A definição para Teologia da Libertação mais  utilizada  pelos  teólogos    é  que  essa  teologia permite e leva o individuo a uma  reflexão crítica  sobre a práxis, numa reflexão inversa da proposta pelo Estado. Na teologia da libertação o  individuo é chamado a refletir sob um visão que privilegia o pensar a  coletividade, e fomenta a importância do coletivo na participação  social tendo em vista o jeito de ser e fazer igreja numa reflexão que o oprimido tem destaque quanto pessoa de direito.
Contudo, é importante ressaltar que uma linha teológica que enfatiza a libertação, abarca um fortalecimento de compreensão que admite e ressalta a necessidade de um novo jeito de ser e fazer igreja, num contexto em que seja priorizado e pautado na participação ativa dos pobres e dos leigos na vida da igreja; estreitando a relação entre libertação e salvação, e na vida da sociedade; estreitando a relação entre Estado e Povo.
A prática libertadora, não é uma prática fácil, visto que aborda uma formação crítica e de militância, assim, o seu exercício passa por muitas dificuldades, desafios, desentendimentos e também grandes conquistas. Portanto, a persistência na luta pela difusão desta prática, traz para a igreja um rosto mais humano, visto sua capacidade e responsabilidade em assumir questões de cunho social, a militância em causas políticas sem perder sua essência e seu carisma missionário. Esse novo jeito de ser igreja traz mais vida e atitude tanto para o clero quanto para os leigos, pois estes passam a ver a realidade com olhos se agentes sujeitos na construção do reino.
A PJ em comunhão com a igreja libertadora traz uma proposta metodológica pautada na realidade, sendo assim destaca que o importante para garantir de forma efetiva a liberdade e a dignidade humana, é preciso que as pessoas se lancem no meio e se faça um como o outro, ou seja, é preciso conhecer a realidade, compreender os fatores que constrói a realidade e agir para transformar a realidade, numa perspectiva coletiva, é importante ressaltar que essa prática metodológica exige comprometimento, organização, articulação e participação coletiva, sendo assim o olhar, o conhecer deve estar associado ao sentir, visto que não possível transformar com eficiência algo que não se conhece, pois é preciso estar em comunidade, na certeza de que a opção pelos pobres quer dizer na prática em estar e lutar junto, num espaço comum de partilha, ensinamento, aprendizagem e construção. Sendo este um espaço político que visa a geração e promoção da vida. Na prática libertadora faz-se acontecer o evangelho, faz-se acontecer o Reino de Deus.


A FÉ QUE NOS LANÇA NA LUTA

“Se é pra ir à luta eu vou”.

A PJ busca integrar a juventude e a direcionar rumo a evangelização de tantos jovens que se encontram na cidade e no campo, nas periferias e nos centros sedentos pela palavra de Deus, bem como sedentos para falar e ser ouvido. Assim para além da evangelização a PJ percebe a necessidade de agir a luz do evangelho na transformação da sociedade, por isso a PJ, a vivência em grupo lança o jovem na luta, devido ao compromisso com a pessoa humana e a sociedade. Portanto é necessário que os jovens da PJ sejam sujeitos do processo de transformação, é preciso que compreender a plena ligação entre a Fé e a Política para levar a bandeira da vida em todos os lugares que se fizer presente, é de extrema importância nessa ação missionária estar munido da espiritualidade libertadora que nos alimenta e motiva a participar da vida das nossas comunidades e agirmos como agentes de transformação, sendo fiel ao projeto de Jesus Cristo, buscando sempre viver numa experiência de fé crescente de comunhão e participação social.
É sempre necessário estarmos bem conscientes da realidade, da conjuntura na qual estamos inseridos. Vemos a realidade porque está carregada de vida e esperança. Inspira-nos a vida de Jesus, pois Jesus é presença viva na história concreta de um povo. História carregada de conflitos, marginalização, preconceito, injustiça, ou seja, repleta de sinais de morte.
Porém, nosso olhar jovem, sobretudo, nosso olhar de fé e esperança, de quem conhece e busca a cada dia conhecer melhor a realidade do nosso povo, desejamos evidenciar a luz que é sinal de vida.
Assim, nossa fé e opção pastoral nos lança ao mundo, como operários de Cristo num trabalho que geralmente se inicia por motivos e lugares onde há o predomínio de sombras e tristeza, realidade de muitas comunidades que pertencemos, as quais os grupos de jovens emergem clamando por vida.  
Assim a proposta e formação da PJ fomenta e estimula o dinamismo, a criatividade e a força juvenil, garantindo por meio de grupos de jovens ativos nas comunidades, que estes criem estratégias de combate aos sinais de morte, visando a transformação desses espaços sombrios em espaços onde reine o brilho lindo e intenso da luz da vida.
Por isso os militantes da PJ devem se envolver em questões políticas nos espaços onde estão inseridos, tendo em vista que para transformar a realidade é necessário também garantir por diversos meios a execução e construção de uma política pautada na ética e no bem comum, daí a importância de pessoas guiadas pela proposta de Jesus se organizarem e participar ativamente da construção e decisões que envolvem a vida do povo, pois que não participa admite e aceita as iniqüidades presentes no atual cenário social, quem não fala não é ouvido, e nós quanto jovens da PJ devemos ser sensíveis as questões políticas e sociais, anunciando e denunciando, a final somos ou não jovens protagonistas no reino?
A atual conjuntura nos provoca e causa indignação, nos desperta para elementos que precisamos estar atentos, que permeia as linhas políticas e sociais, muitas estão ligados ao trabalho (exploração, desemprego), manipulação dos meios de comunicação, manipulação da política, incentivo ao consumismo e acumulo de riquezas, violência, educação e a inserção e facilidade no acesso a diversos tipos de drogas que hoje é causa de muitas mortes, em especial na faixa etária juvenil. São questões que precisam de um olhar e intervenções por parte do Estado, bem como, da sociedade civil organizada. Daí surge uma pergunta: Como o grupo de jovens que atuo tem discutido sobre estes assuntos? Como está nossa participação no cenário político e social da minha cidade?

A juventude organizada, seja através de grupos de base da PJ ou através de outras organizações que priorizam a vida, tem muito a contribuir na construção de uma sociedade mais justa e melhor de se viver, onde os conflitos sejam extintos e dê lugar a paz, ao amor, a igualdade e a alegria. 

Fé e Política: uma aliança em defesa da vida

A Fé e a Política são elementos fundamentais na vida humana, estando impregnada nas relações sociais, culturais, econômicas e etc, independente da orientação/opção religiosa, classe social, gênero e raça. Neste caso entendendo a Fé como elemento de crença e a Política como elemento que constitui as relações humanas
Sendo assim, na qualidade de indivíduos cristãos católicos, militantes da Pastoral da Juventude (PJ) somos guiados pela fé de Jesus Cristo e orientados pelo seu exemplo de um ser extremamente político que visa às relações humanas pacífica, igualitária, justa e fraterna. Temos então como grande referencial teórico a Bíblia Sagrada, a qual consta o registro da história política do Povo de Deus.
No Antigo Testamento, os profetas já denunciavam as questões políticas que afetavam e oprimiam o Povo de Deus: Isaías (10,1-2) já dizia:
“… ai daqueles que fazem decretos iníquos e daqueles que escrevem sentenças de opressão, para negar a justiça ao fraco e fraudar o direito dos pobres”.
No Novo Testamento, o próprio Filho de Deus vem testemunhar, com a própria vida, que é preciso lutar pelas questões sociais que afetam a vida do povo. Jesus combateu as injustiças, defendeu os mais pobres, bateu com chicote nos corruptos e perdoou a prostituta do seu tempo.
Sendo assim fica explícito que o ensinamento e exigências de Jesus Cristo enfatiza a importância de pensar e compreender as questões sociais, tendo como norte de orientação o amor ao próximo, a caridade, a justiça, a solidariedade e a vida em comunidade.
Jesus foi um grande líder revolucionário, foi um político profético. Essa é a essência de um ser verdadeiramente político, homem que se lança em meio aos mais empobrecidos e luta pela dignidade do seu povo, combatendo com ardor os opressores e poderosos em defesa da vida.

Assim, através da luz divina que nos motiva a caminhar orientados pelo exemplo de Jesus, sendo jovens protagonistas, comprometidos com o reino, organizados em nossas comunidades eclesiais, somos todos os dias convocados a assumir nossa identidade de cristão que acredita que a Fé e a Política estão inteiramente ligadas, sendo uma o suporte para a outra, e que desmembrá-las seria como cortar alimentação de um homem. Pois a clareza desta união, nos possibilita a compreender as questões reais que permeiam a vida em sociedade, se pautado na denuncia do mal e anuncio do bem, buscando intervir e curar as feridas da sociedade, porque a proposta de Cristo é que sejamos sal e luz no mundo, como agentes de esperança, agentes de transformação, agentes promotores e geradores de vida, que visa construir a civilização do amor, vivendo e transformando a realidade.

Fé e Política

FÉ & POLÍTICA

“A Fé sem obras é morta”.

Política?

            “O termo política é derivado do grego antigo (politeía) e podia significar tanto cidade-estado como sociedade, comunidade ou coletividade”.
Política é o conjunto de ações pelas quais as pessoas buscam uma forma de convivência entre os indivíduos, grupos, nações, e etc, tendo como principal enfoque a vida e o bem comum.
Portanto para que se possa ter garantir uma política que defende a vida e o bem comum, faz-se necessário a participação ativa da população, como agentes de livres e com o poder de decidir junto ao Estado, por isso é importante uma sociedade organizada, visto que uma decisão, uma lei, que seja tomada e aprovada no âmbito da política de Estado influenciará diretamente a vida de cada um.
Contudo, é importante ressaltar que a participação política vai muito além do ato de votar, essa participação tem um caráter de construção, de liberdade de expressão, de fazer-se parte do processo decisório do Estado. O voto elege representantes do povo, para que estes possam acompanhar de perto as questões relacionadas as práticas políticas que envolve todas as dimensões humanas e sociais, sendo um porta voz do povo e um mensageiro do Estado, fazendo a interlocução entre estes e contribuindo na difusão das noticias reais que permeiam pelos espaços políticos do legislativo, judiciário e executivo.

A participação popular pode transformar a realidade, essa participação se dá também por meio da atuação em associações, organizações não governamentais (ONG’s),  movimentos sociais, pastorais religiosas, conselhos de direito (conselho da juventude, conselho da criança e do adolescente...), sendo grupos que se reúnem e dialogam sobre a realidade social e buscam criar estratégias de intervenção visando sanar e/ou reduzir problemas socais, tendo em vista o bem comum.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

PJ: 40 anos fazendo a diferença!

A Pastoral da Juventude no Brasil traz uma história de luta, desafios e vitórias!
Sua marca é sem dúvida a proposta  pedagógica de levar o jovem a perceber a sua semelhança com Jesus Cristo e fazer opção por ele e pelas suas causas. São 40 anos de caminhada, 40 anos em constante missão, 40 anos formando jovens lideranças, potencializando o protagonismo juvenil, 40 anos gerando e promovendo vida.

Carregar na bagagem a bandeira da PJ, o ofício divino da juventude e no peito o ardor missionário, o sonho, a fé  e muita esperança são elementos que fazem parte da vida de todo pjoteiro e pjoteira, de norte a sul, no campo e na cidade e de forma especial nas periferias e pequenas comunidades desse imenso país.

Pois ser jovem e ser da PJ, não é ser melhor, nem pior que ninguém... é ser diferente!
É acreditar em outro mundo possível, é colocar a mão na massa para fazer acontecer esse novo mundo... É ver e fazer, novo céu e nova terra onde reina a igualdade, o amor e paz.

Pois a PJ nos inspira e nos anima, a perseverar e a lutar, pois o nosso exemplo é Jesus Cristo aquele jovem que foi capaz de revolucionar o mundo e amou sem medida e sem distinção, com atenção especial aos mais empobrecidos e marginalizados!

Sou PJoteira e  acredito na força e na ousadia da Juventude!


“Se a juventude viesse a faltar, o rosto de Deus iria mudar”.

sábado, 9 de novembro de 2013

Poder Público, Sociedade Civil e Conselho Municipal da Juventude: Ouro Preto em pauta.


Assunto Sério, Muito Sério! Acredito que seja de conhecimento de tod@s que em 14 de setembro deste ano, ocorreu nesta cidade a III Conferência Municipal da Juventude, tendo com um dos principais objetivos a constituição do Conselho Municipal da Juventude. A sociedade civil, através das suas diversas organizações juvenis atuantes na sede e nos distritos do município se fizeram presente no evento. Dialogaram sobre os sonhos e os desafios da juventude no município, visto a realidade de morte que acompanhamos diariamente no nosso ir e vir pelas ruas de nossa Ouro Preto - é possível identificar com facilidade o extermínio da juventude. A realidade de extermínio juvenil muito se relaciona a ausência de políticas públicas que atendam as necessidades das Juventudes. O nosso município é altamente carente nesse aspecto, entendo que falta pensar as políticas públicas para juventude COM a juventude. Não adianta propor políticas para aquilo que não se conhece, não serão eficientes. #Fato Quanto a esse pensar de forma coletiva, não podemos falar que a Juventude não se interessa (como por vezes ouço por aí), pois se esta fosse a realidade a sociedade civil não teria feito a sua parte de garantir a composição do "tão sonhado e possível Conselho", os jovens eleitos democraticamente nesta conferência estão aguardando o poder público indicar seus representantes, os jovens reconhecem a importância deste instrumento e quer muito trabalhar pela vida da Juventude. Pois, A JUVENTUDE QUER VIVER! Aguardamos essas indicações do poder público, que já deveriam ter sido feitas a muito tempo. Qual é a dificuldade? Não há nomes no governo que possam colaborar neste espaço de construção? O governo deseja se manter como espectador do extermínio da juventude? Sinto muito, mas essa atitude (de omissão) é de quem "deseja" promover esta violência! Prova disso foi a pequena participação do poder público na conferência. Enfim... Aguardamos um posicionamento do governo sobre este assunto o mais rápido possível. (espero que sejam coerentes com a missão que optaram em executar no município). Ressalto que a Secretaria de Esporte a qual o Conselho está vinculado através da lei, colaborou na construção da conferencia exercendo seu papel, mas que não se esgota na realização do evento, pois a missão começa quando a conferência termina! Saudações de esperança.

domingo, 3 de novembro de 2013

MATERIALISMO

Antes que o escultor talhe o tronco de madeira
A peça está toda pronta na sua mente de artista
Que já contempla feliz o que ainda será.

Antes mesmo que o engenheiro desenhe a casa de seus sonhos
Risonho visita em si a moradia acabada
Que ainda vai ser revelada num pedaço de papel.

Bem antes que o pintor deslize o pincel sobre a tela
O quadro está terminado na fértil imaginação.
Dependurado no quarto de uma vida em construção.

Muito antes que o poeta dê forma a seu poema
Insuflando vida plena no tecido da palavra
A poesia inteira já lhe inunda a alma.

Antes que o Jequitibá fosse árvore frondosa
Ficaria todo guardado numa pequena semente
Que ousara fazer-se terra no seio da liberdade.

Antes que a revolução subverta a sociedade
Plantara a raiz no coração dessa gente
Na chama do fogo ardente da consciência engajada.

Mas antes do antes do antes do antes da explosão consciente
Os pés metidos no chão se encheram de memória
Nessa longa trajetória da matéria em construção.


Fonte: FERNANDES, Antônio Claret. Suspeitas. Belo Horizonte: Código Editora, 2012. p.46-47.

domingo, 27 de outubro de 2013

Há de se cuidar da amizade e do amor

A amizade e o amor constituem as relações maiores e mais realizadores que o ser humano, homem e mulher, pode experimentar e desfrutar. Mesmo o místico mais ardente só consegue uma fusão com a divindade através do caminho do amor. No dizer de São João da Cruz, trata-se da experiência da “a amada(a alma) no Amado transformada”. Há vasta literatura sobre estas duas experiências de base. Aqui restringimo-nos ao mínimo. A amizade é aquela relação que nasce de uma ignota afinidade, de uma simpatia de todo inexplicável, de uma proximidade afetuosa para com a outra pessoa. Entre os amigos e amigas se cria uma como que comunidade de destino. A amizade vive do desinteresse, da confiança e da lealdade. A amizade possui raízes tão profundas que, mesmo passados muitos anos, ao reencontrarem-se os amigos e amigas, os tempos se anulam e se reatam os laços e até se recordam da última conversa havida há muito tempo. Cuidar da amizade é preocupar-se com a vida, as penas e as alegrias do amigo e da amiga. É oferecer-lhe um ombro quando a vulnerabilidade o visita e o desconsolo lhe oculta as estrelas-guias. É no sofrimento e no fracasso existencial, profissional ou amoroso que se comprovam os verdadeiros amigos e amigas. Eles são como uma torre fortíssima que defende o frágil castelo de nossas vidas peregrinas. A relação mais profunda é a experiência do amor. Ela traz as mais felizes realizações ou as mais dolorosas frustrações. Nada é mais misterioso do que o amor. Ele vive do encontro entre duas pessoas que um dia cruzarem seus caminhos, se descobriram no olhar e na presença e viram nascer um sentimento de enamoramento, de atração, de vontade de estar junto até resolverem fundir as vidas, unir os destinos, compartir as fragilidades e as benquerenças da vida. Nada é comparável à felicidade de amar e de ser amado. E nada há de mais desalodor, nas palavras do poeta Ferreira Gullar, do que não poder dar amor a quem se ama. Todos esses valores, por serem os mais preciosos, são também os mais frágeis porque mais expostos às contradições da humana existência. Cada qual é portador de luz e de sombras, de histórias familiares e pessoais diferentes, cujas raízes alcançam arquétipos ancestrais, marcados por experiêncis bem sucedidas ou trágicas que deixaram marcas na memória genética de cada um. O amor é uma arte combinatória de todos estes fatores, feita com sutileza que demanda capacidade de compreensão, de renúncia, de paciência e de perdão e, ao mesmo tempo, comporta o desfrute comum do encontro amoroso, da intimidade sexual, da entrega confiante de um ao outro. A experiência do amor serviu de base para entendermos a natureza de Deus: Ele é amor essencial e incondicional. Mas o amor sozinho não basta. Por isso São Paulo em seu famoso hino ao amor, elenca os acólitos do amor sem os quais ele não consegue subsistir e irradiar. O amor tem que ser paciente, benigno, não ser ciumento, nem gabar-se, nem ensoberbecer-se, não procurar seus interesses, não se ressentir do mal…o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta…o amor nunca se acaba(1Cor 13, 4-7). Cuidar destes acompanhates do amor é fornecer o húmus necessário para que o amor seja sempre vivo e não morra pela indiferença. O que se opõe ao amor não é o ódio mas a indiferença. Quanto mais alguém é capaz de uma entrega total, maior e mais forte é o amor. Tal entrega supõe extrema coragem, uma experiência de morte pois não retém nada para si e mergulha totalmente no outro. O homem possui especial dificuldade para esta atitude extrema, talvez pela herança de machismo, patriarcalismo e racionalismo de séculos que carrega dentro de si e que lhe limita a capacidade desta confiança extrema. A mulher é mais radical: vai até o extremo da entrega no amor, sem resto e sem retenção. Por isso seu amor é mais pleno e realizador e, quando se frustra, a vida revela contornos de tragédia e de um vazio abissal. O segredo maior para cuidar do amor reside no singelo cuidado da ternura. A ternura vive de gentileza, de pequenos gestos que revelam o carinho, de sacramentos tangíveis, como recolher uma concha na praia e levá-la à pessoa amada e dizer-lhe que, naquele momento, pensou carinhosamente nela. Tais “banalidades” tem um peso maior que a mais preciosa jóia. Assim como uma estrela não brilha sem uma atmosfera ao seu redor, da mesma forma, o amor não vive sem um aura de enternecimento, de afeto e de cuidado. Amor e cuidado formam um casal inseparável. Se houver um divórcio entre eles, ou um ou outro morre de solidão. O amor e o cuidado constituem uma arte. Tudo o que cuidamos também amamos. E tudo o que amamos também cuidamos. Tudo o que vive tem que ser alimentado e sustentado. O mesmo vale para o amor e para o cuidado. O amor e o cuidado se alimentam da afetuosa preocupação de um para com o outro. A dor e a alegria de um é a alegria e a dor do outro. Para fortalecer a fragilidade natural do amor precisamos de Alguém maior, suave e amoroso, a quem sempre podemos invocar. Daí a importância dos que se amam, de reservarem algum tempo de abertura e de comunhão com esse Maior, cuja natureza é de amor, aquele amor, que segundo Dante Alignieri da Divina Comédia “move o céu e as outras estrelas” e nós acrescentamos: que comove os nossos corações. Fonte: Leonardo Boff é autor de O Cuidado necessário, Vozes 2012.

domingo, 15 de setembro de 2013

ESCOLA

Escola é...
O lugar onde se faz amigos. Não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos. Escola é, sobretudo, gente. Gente que trabalha, que estuda, que alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, o coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de ilha cercada de gente por todos os lados. Nada de conviver com as pessoas e descobrir que não tem amizade a ninguém. Nada de ser como tijolo que forma parede, indiferente, frio, só... Importante na Escola não é só estudar, não é só trabalhar. É também criar laços de amizade. É criar ambiente de camaradagem. É conviver, é ser “amarrado nela”. Ora é lógico.... Numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, SER FELIZ! Texto: Paulo Freire

domingo, 8 de setembro de 2013

Manifestações Populares (Grito dos Excluídos - Reflexão 2)

“Um jovem que não protesta não me agrada. Porque o jovem tem a ilusão da utopia, e a utopia não é sempre negativa. A utopia é respirar e olhar adiante." (Papa Francisco) As manifestações populares que vem acontecendo em vários cantos deste país, apresenta uma realidade muito positiva, e uma presença marcante da juventude! Sinal vivo da ousadia, dinamismo e esperança inerente à juventude. Muitos não acreditam no jargão que marcou essas manifestações “O GIGANTE ACORDOU”, visto que muitas pessoas, grupos, movimentos e pastorais sociais nunca adormeceram, pois sentiam e sentem na pele diariamente as dificuldades com o transporte coletivo, “que não é público”; enfrentam as filas gigantescas em busca de tratamento médico e medicamentos; sentem o processo educacional desigual entre o público e o privado, sobretudo na educação básica, “por vezes as escolas públicas seguem uma proposta pedagógica alienadora”; onde se torna evidente o desrespeito com os profissionais da educação tanto no aspecto financeiro quanto no de recursos didáticos. Ressalta-se que o cenário real das escolas estaduais em Minas Gerais nada tem a ver com o cenário apresentado nos comerciais televisivos. Crianças e jovens estão reféns de um processo de emburrecimento imposto pelo governo. A realidade na área da educação em Minas está mais para exploração dos prestadores de serviços e enganação para os estudantes e suas famílias. A resposta para o atual cenário é obvia: “Quanto mais alienado o indíviduo, mais fácil de manipular”... Pensa-se que o Estado propõe formar um bando de massa de manobra, pois a formação cidadã no atual e predominante modelo educacional, é praticamente impossível. Ainda assim, encontra-se muitos educadores ou melhor educadores e educadoras gingantes, que acreditam na educação emancipadora e libertadora. Muitos destes carregam em suas veias a cultura da militância. Estes que lutam contra o sistema, matam um leão por dia, dando o melhor de si, buscando fazer a diferença naquele espaço. Portanto a luta pelo respeito aos profissionais da educação precisa manter-se viva, ou a sociedade continuará fadada ao caos. Essa realidade precisa mudar urgentemente! As manifestações demonstram também o poder de mobilização e a influência das redes sociais na vida das pessoas. Ressalta-se que este é um instrumento positivo e importante neste tempo. Visto a liberdade que cada um tem de expor suas idéias e opiniões, bem como a rapidez e eficiência na difusão da informação Destaca-se: “o que interessa a todos, deve ser discutido e decidido por todos”. Numa perspectiva de atingir o ideal democrático no Brasil, de ir além da democracia delegativa ou representativa e chegar à democracia participativa, que começa na base, que envolve o maior número possível de pessoas, o tipo de democracia que se mantém presente no ideário dos movimentos sociais, das comunidades de base, das pastorais sociais e das juventudes. “A nossa Luta é no campo e na cidade, para construir uma nova sociedade”.

Grito dos Excluídos 2013 (Reflexão I)

O grito dos excluídos é uma manifestação popular carregada de simbolismo, é um espaço de animação e profecia, sempre aberto e plural. Onde se faz presente, grupos, entidades, igrejas, movimentos e pastorais sociais, cidadãos e cidadãs comprometidos e comprometidas com as causas dos excluídos, marginalizados e mais empobrecidos, defendendo aqueles e aquelas que o atual sistema coloca a margem, discriminando-os de maneira cruel e sem limite. Denunciar o modelo político e econômico vigente no Brasil, que minimiza direitos e maximiza a exploração, que garante o acumulo de riquezas em poucas mãos e condena milhares de famílias à exclusão social, podendo ser considerado um fator que gera morte. Este é o modelo de sociedade que querem? É o modelo capitalista que responde adequadamente a necessidade dos povos brasileiros de norte a sul? Este é o sistema que se temo! Este é o sistema que precisa ser causa de indignação! Mesmo que milhares de famílias tenham saído da linha da miséria nos últimos anos, é notável que o atual sistema capitalista não é capaz de responder de forma digna as necessidades humanas da população brasileira. Esta proposta, que já se apresente com uma cultura de consumo desenfreado coloca a vida das gerações futuras e a vida do planeta em risco diariamente. Pode-se afirmar que outro modelo econômico é possível e necessário, ou a raça humana estará fadada a morte precoce. Na qualidade de sujeitos, de cristãos e cristãs, de sociedade civil organizada, é chegada a hora de tornar público a indignação frente essa realidade, que fere e mancha de sangue o projeto que defende a vida. Por acreditar numa Igreja humana e libertadora, numa igreja que tem lado, que defende o homem e a mulher, a criança, o jovem e o idoso, o branco, o negro e o índio, numa igreja mãe, missionária e dos pobres, é que se deseja edificar o Reino de Deus, reino de vida, paz e esperança, um Reino de amor! Enfim... estar em luta na rua, nas praças em multidão por todos os cantos do Brasil, com a bandeira da vida em punho e o coração clamando e booca gritando “que o desejo é a vida e os direitos do povo”, é um forma de contribuir de forma efetiva na construção da sociedade do Bem Viver. Onde todos tenham vida e vida em abundância. “Pra mim é fundamental a proximidade da Igreja. Porque a Igreja é mãe, e nem você nem eu conhecemos uma mãe por correspondência. A mãe dá carinho, toca, beija, ama. Quando a Igreja, ocupada com mil coisas, se descuida dessa proximidade, se descuida disso e só se comunica com documentos, é como uma mãe que se comunica com seu filho por carta.” (Papa Francisco)

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Medicos Cubanos no Brasil: uma ótima reflexão




Do ponto de vista da saúde pública, temos um quadro conhecido. Faltam médicos em milhares de cidades brasileiras, nenhum doutor formado no país tem interesse em trabalhar nesses lugares pobres, distantes, sem charme algum – nem aqueles que se formam em universidades públicas sentem algum impulso ético de retribuir alguma coisa ao país que lhes deu ensino, formação e futuro de graça.
Respeitando o direito individual de cada pessoa resolver seu destino, o governo Dilma decidiu procurar médicos estrangeiros. Não poderia haver atitude mais democrática, com respeito às decisões de cada cidadão.
O Ministério da Saúde conseguiu atrair médicos de Portugal, Espanha, Argentina, Uruguai. Mas continua pouco. Então, o governo resolveu fazer o que já havia anunciado: trazer médicos de Cuba.
Como era de prever, a reação já começou.
E como eu sempre disse neste espaço, o conservadorismo brasileiro não consegue esconder sua submissão aos compromissos nostálgicos da Guerra Fria, base de um anticomunismo primitivo no plano ideológico e selvagem no plano dos métodos. É uma turma que se formou nesta escola, transmitiu a herança de pai para filho e para netos. Formou jovens despreparados para a realidade do país, embora tenham grande intimidade com Londres e Nova York.
Hoje, eles repetem o passado como se estivessem falando de algo que tem futuro.
Foi em nome desse anticomunismo que o país enfrentou 21 anos de treva da ditadura. E é em nome dele, mais uma vez, que se procura boicotar a chegada dos médicos cubanos com o argumento de que o Brasil estará ajudando a sobrevivência do regime de Fidel Castro. Os jornais, no pré-64, eram boicotados pelas grandes agências de publicidade norte-americanas caso recusassem a pressão americana favorável à expulsão de Cuba da OEA. Juarez Bahia, que dirigiu o Correio da Manhã, já contou isso.
Vamos combinar uma coisa. Se for para reduzir economia à política, cabe perguntar a quem adora mercadorias baratas da China Comunista: qual o efeito de ampliar o comércio entre os dois países? Por algum critério –político, geopolítico, estético, patético– qual país e qual regime podem criar problemas para o Brasil, no médio, curto ou longo prazo?
Sejamos sérios. Não sou nem nunca fui um fã incondicional do regime de Fidel. Já escrevi sobre suas falhas e imperfeições. Mas sei reconhecer que sua vitória marcou uma derrota do império norte-americano e compreendo sua importância como afirmação da soberania na América Latina.
Creio que os problemas dos cidadãos cubanos, que são reais, devem ser resolvidos por eles mesmos.
Como alguém já lembrou: se for para falar em causas humanitárias para proibir a entrada de médicos cubanos, por que aceitar milhares de bolivianos que hoje tocam pedaços inteiros da mais chique indústria de confecção do país?
Denunciar o governo cubano de terceirizar seus médicos é apenas ridículo, num momento em que uma parcela do empresariado brasileiro quer uma carona na CLT e liberar a terceirização em todos os ramos da economia. Neste aspecto, temos a farsa dentro da farsa. Quem é radicalmente a favor da terceirização dos assalariados brasileiros quer impedir a chegada, em massa, de terceirizados cubanos. Dizem que são escravos e, é claro, vamos ver como são os trabalhadores nas fazendas de seus amigos.
Falar em democracia é um truque velho demais. Não custa lembrar que se fez isso em 64, com apoio dos mesmos jornais que 49 anos depois condenam a chegada dos cubanos, erguendo o argumento absurdo de que eles virão fazer doutrinação revolucionária por aqui. Será que esse povo não lê jornais?
Fidel Castro ainda tinha barbas escuras quando parou de falar em revolução. E seu irmão está fazendo reformas que seriam pura heresia há cinco anos.
O problema, nós sabemos, não é este. É material e mental.
Nossos conservadores não acharam um novo marqueteiro para arrumar seu discurso para os dias de hoje. São contra os médicos cubanos, mas oferecem o que? Médicos do Sírio Libanês, do Einstein, do Santa Catarina?
Não. Oferecem a morte sem necessidade, as pragas bíblicas. Por isso não têm propostas alternativas nem sugestões que possam ser discutidas. Nem se preocupam. Ficam irresponsavelmente mudos. É criminoso. Querem deixar tudo como está. Seus médicos seguem ganhando o que podem e cada vez mais. Está bem. Mas por que impedir quem não querem receber nem atender?
Sem alternativa, os pobres e muito pobres serão empurrados para grandes arapucas de saúde. Jamais serão atendidos, nem examinados. Mas deixarão seu pouco e suado dinheiro nos cofres de tratantes sem escrúpulos.
Em seu mundo ideal, tudo permanece igual ao que era antes. Mas não. Vivemos tempos em que os mais pobres e menos protegidos não aceitam sua condição como uma condenação eterna, com a qual devem se conformar em silêncio. Lutam, brigam, participam. E conseguem vitórias, como todas as estatísticas de todos os pesquisadores reconhecem. Os médicos, apenas, não são a maravilha curativa. Mas, representam um passo, uma chance para quem não tem nenhuma. Por isso são tão importantes para quem não tem o número daquele doutor com formação internacional no celular.
O problema real é que a turma de cima não suporta qualquer melhoria que os debaixo possam conquistar. Receberam o Bolsa Família como se fosse um programa de corrupção dos mais humildes. Anunciaram que as leis trabalhistas eram um entrave ao crescimento econômico e tiveram de engolir a maior recuperação da carteira de trabalho de nossa história. Não precisamos de outros exemplos.
Em 2013, estão recebendo um primeiro projeto de melhoria na saúde pública em anos com a mesma raiva, o mesmo egoísmo.
Temem que o Brasil esteja mudando, para se tornar um país capaz de deixar o atraso maior, insuportável, para trás. O risco é mesmo este: a poeira da história, aquele avanço que, lento, incompleto, com progressos e recuos, deixa o pior cada vez mais distante.
É por essa razão, só por essa, que se tenta impedir a chegada dos médicos cubanos e se tentará impedir qualquer melhoria numa área em que a vida e a morte se encontram o tempo inteiro.
Essa presença será boa para o povo. Como já foi útil em outros momentos do Brasil, quando médicos cubanos foram trazidos com autorização de José Serra, ministro da Saúde do governo de FHC, e ninguém falou que eles iriam preparar uma guerrilha comunista. Graças aos médicos cubanos, a saúde pública da Venezuela tornou-se uma das melhores do continente, informa a Organização Mundial de Saúde. Também foram úteis em Cuba.
Os inimigos dessas iniciativas temem qualquer progresso. Sabem que os médicos cubanos irão para o lugar onde a morte não encontra obstáculo, onde a doença leva quem poderia ser salvo com uma aspirina, um cobertor, um copo de água com açúcar. Por isso incomodam tanto. Só oferecem ameaça a quem nada tem a oferecer aos brasileiros além de seu egoísmo.

Fonte:
 http://www.adital.com.br/site/autor.asp?lang=PT&cod=14078)

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A JMJ precisar render frutos em nossas comunidades e em nossa vida!


Refletindo a vida juvenil...


As cruzes dos jovens

A Cruz é o símbolo das Jornadas Mundiais da Juventude desde 1985. A Cruz é simples. Já exibe as marcas das muitas viagens percorridas. Falar de “Cruz”, para o cristão, é falar de um dos símbolos mais profundos e emocionantes. Ela está unida, essencialmente, à ressurreição, assim como a morte vai unida à vida. A “Cruz” se torna dramática quando se torna mais importante que a ressurreição. Na visita que o Papa Francisco fez à favela da Varginha, pensando em juventude, ele afirmou: Queria dizer uma última coisa. Uma última coisa! Aqui, como em todo o Brasil, há muitos jovens. Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo com o bem.
Precisamos conscientizar-nos de que é  mais importante falar das cruzes dos jovens, do que fazer que os jovens carreguem outra cruz pelas estradas de nossas dioceses. Na mala de nossos sonhos precisamos carregar as cruzes dos jovens brasileiros, latino-americanos e de todo mundo. O documento de Aparecida fala de 11 delas: 1) as sequelas da pobreza; 2) a socialização de valores com forte carga de alienação; 3) a permeabilidade às novas formas de expressões culturais, afetando a identidade pessoal e social do jovem; 4) o fato de os/as jovens serem presa fácil das novas propostas religiosas; 5) as crises da família provocando, na juventude, profundas carências afetivas e conflitos emocionais ; 6) a repercussão de uma educação de baixa qualidade;  7) a ausência de jovens na esfera política devido à desconfiança que geram as situações de corrupção, o desprestígio dos políticos e a procura de interesses pessoais frente ao bem comum;  8) o suicídio de jovens; 9) a impossibilidade de estudar e trabalhar; 10) o fato de os/as jovens terem que deixar seus países dando ao fenômeno da migração um rosto juvenil”; 11) o uso indiscriminado e abusivo da comunicação virtual. Sabemos que há outras cruzes como a baixa autoestima, o medo de morrer, o medo de sobrar, o medo de “ficar por fora”, o medo da AIDS etc. São cruzes de todo dia e cruzes que não se dizem.
O Papa Francisco, com palavras que ecoaram por toda a praia de Copacabana, falando de cruz e das atitudes diante da cruz, interpelou os jovens por outro ângulo. Ele perguntou: Vocês querem ser como quem? Digam-me: vocês são daqueles que lavam as mãos, fingem não ver e olham para o lado, ou são como o Cireneu, que ajuda Jesus a levar aquele pesado madeiro, como Maria e as outras mulheres, que não têm medo de acompanhar Jesus até o final, com amor, com ternura? Por fim, disse: Jesus está olhando para você agora e lhe diz: você quer me ajudar a carregar a cruz? Irmão, irmã, com toda a sua força jovem, o que você lhe responde?


 Conhecer a realidade juvenil

É preciso partir da realidade. Só ama quem conhece. A encarnação de Jesus de Nazaré é uma das grandes aulas de pedagogia que Deus nos deu e dá. Isso vale de modo especial para quem trabalha com a juventude e, até, para a juventude. Para um evento tão importante, como é a JMJ, não se pode ir somente, com dinheiro, no peito e na raça. É preciso cultivar o conhecimento da realidade juvenil. Coisas vistas, coisas lidas, coisas estudadas; coisas pesquisadas. Passou o tempo em que bastava ser do clero para se entender de juventude... O sair de si mesmo para  ver “outros mundos” nem sempre é tão fácil. Ser jovem é viver a epopeia do êxodo. O Papa disse que é hora de sair da sacristia e ir para a rua.  Em termos teológicos, é o nascimento da vocação missionária que vive em cada jovem. Por isso que se fala de “conhecer” e “tornar-se conhecido”. Não se imagina uma juventude adormecida, sem querer ver a realidade que a rodeia. A JMJ deveria ser um momento privilegiado de as juventudes se encontrarem, não como massa de manobra, mas como “povo” que carrega em si novidades para toda a sociedade. Não basta saber falar de Deus, da Igreja, dos sacramentos etc. É preciso comungar com a realidade juvenil, o que significa mais do que marcar presença.
Preocupam dois fatos: ver que, nas pessoas da Igreja, o conhecimento da juventude parece ser uma espécie de “ciência infusa”: a gente sabe o que é juventude, não é preciso estudar; segundo, ao mesmo tempo em que em muitas partes a juventude é levada mais a sério, com cursos, pós-graduações, pesquisas, publicações... no espaço da Igreja se dá um estranho abandono desse campo: ao mesmo tempo em que o clero (em geral) se afasta mais dos jovens, a dedicação ao estudo da evangelização da juventude (com tudo o que isso significa) também vai decrescendo e, até, é mal vista.

Novos sonhos

Um grande evento, carregado de emoções e ideias, faz e deve fazer brotar utopias.  Jovem que não sonha, é velho. Pessoas que trabalham com jovens e não veem neles/as, sonhadores/as, está no lugar errado. Adultos que não se animam a sonhar junto com os/as jovens não estão vivendo a opção pela juventude. Uma sociedade que acha que “já chegou”, não gosta de quem sonha. Bonito ler o profeta Joel dizendo que “entre vocês, os velhos terão sonhos e os jovens terão visões” (Jl 3,1) porque todos conhecerão o projeto de Deus.
O Papa disse, no Rio de Janeiro, que não saberia dizer o que os jovens queriam dizer com as manifestações que houve em muitas cidades do Brasil (assim como também houve fatos semelhantes na Turquia, na Espanha, no Chile...) mas afirmou: “Com toda franqueza lhes digo: não sei bem porque os jovens estão protestando...  Um jovem que não protesta não me agrada. Porque o jovem tem a ilusão da utopia, e a utopia não é sempre ruim. A utopia é respirar e olhar pra frente. O jovem é mais espontâneo, não tem tanta experiência de vida, é verdade. Mas às vezes a experiência nos freia”. Utopia e sonho se encontram; utopia e jovem são irmãos; a utopia faz sempre nascer o novo.

Sonho tem muito a ver com “análise de conjuntura”, também da realidade juvenil; sonho tem muito a ver com profecia. Será que milhões de jovens, trazendo na mala as diferentes realidades de seus países, conversando sobre elas, partilhando o que passa no mundo das juventudes, não poderiam transformar as JMJ num grande grito de profecia? Se as JMJ não servirem para fazer novos sonhos, se elas não insistirem em novos sonhos, deveriam ser riscadas do mapa. O “novo céu e a nova terra” (Apc 21,1) precisam da juventude porque ela, de forma muito especial, sabe que o universo sonha ser “a tenda de Deus com os homens”, onde “as coisas antigas têm que desaparecer”. O sonho, contudo precisa da realidade e de referências.


ENCANTAR-SE PELA JUVENTUDE

Ser encantado pela juventude é amá-la, estar perto dela, ser curioso com o que sucede com ela, estudá-la, dar a vida por ela, escutá-la. É ser apaixonado por ela. Comer com ela do mesmo pão... No mesmo sermão de Copacabana o Papa dizia: Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente.  Estamos falando de um compromisso com a vida da juventude. Compromisso que passa por uma pastoral de processo, pelo cuidado com os/as jovens, pelo respeito à juventude, pelo conhecer a realidade juvenil, pelos sonhos jovens (sonhos de Deus), pela opção de conhecer e carregar com os/as jovens suas cruzes e pelo encanto por ela.
É muito bonito, igualmente, ouvir o Papa Francisco falando aos voluntários da JMJ 2013, no dia 28 de julho, desafiando-os a serem revolucionários: Em vista disso eu peço que vocês sejam revolucionários, que vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, que não são capazes de amar de verdade. Eu tenho confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. Tenham a coragem de ser felizes!

Fonte: Fragmentos do texto de Hilário Dick.

Saúde da Mulher X Sistema Carcerário: Uma crise que gera morte



O sistema penitenciário brasileiro conta com apenas 15 médicos ginecologistas para uma população de 35.039 presas, o equivalente a um profissional para cada grupo de 2.335 mulheres. Os dados são do Sistema Integrado de Informações Penitenciárias (Infopen), do Ministério da Justiça, de dezembro de 2012. Para garantir pelo menos uma consulta ginecológica anual por mulher, como recomenda o Ministério da Saúde, cada um desses médicos teria de trabalhar 365 dias por ano e atender a 6 pacientes diariamente. Soluções para essa e outras deficiências serão debatidas durante o II Encontro Nacional do Encarceramento Feminino, que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça (Depen/MJ) realizarão nos dias 21 e 22 de agosto, em Brasília.

"O ideal seria que cada unidade prisional contasse com um médico ginecologista. Mas, diante do baixo contingente de profissionais, as administrações penitenciárias adotam a alternativa de encaminhar as detentas para atendimento na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) do município em que se situam", afirmou o juiz auxiliar da Presidência do CNJ Luciano Losekann, coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas (DMF) e do II Encontro Nacional do Encarceramento Feminino.

Segundo o Departamento de Atenção à Saúde da Mulher do Ministério da Saúde, cada mulher, presa ou não, deve procurar o ginecologista pelo menos uma vez por ano para a realização do exame de Papanicolau, fundamental para a prevenção do câncer de colo de útero. No caso das gestantes, o ministério recomenda a realização de pelo menos seis exames de pré-natal e mais um de puerpério (pós-parto).

Preconceito - As deficiências no atendimento às necessidades de gênero são o principal problema enfrentado pelas mulheres encarceradas. Segundo a ouvidora do Depen, Valdirene Daufemback, uma das convidadas para o II Encontro Nacional do Encarceramento Feminino, elas reclamam "da revista íntima vexatória de visitantes; da separação precoce, abrupta, preconceituosa e, por vezes, criminosa de suas crianças; da negligência com relação a necessidades específicas, como acesso a absorventes e a uniformes femininos e da vulnerabilidade diante de presos ou funcionários homens, além de diversos casos de maus-tratos".

O evento promovido pelo CNJ e pelo Depen terá a participação de juízes e servidores que atuam na área criminal e de execução penal, de secretários de Administração Penitenciária, diretores de penitenciárias, agentes penitenciários e profissionais de saúde, além de membros do Ministério da Saúde e do Ministério Público. A solenidade de abertura do encontro terá a participação do conselheiro Guilherme Calmon, supervisor do DMF; do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo; da ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci; e do diretor-geral do Depen, Augusto Eduardo de Souza Rossini.


Evento: II Encontro Nacional do Encarceramento Feminino

Data: 21 e 22 de agosto de 2013

Local: Escola de Magistratura Federal – 1ª Região (Esmaf). Setor de Clubes Esportivo Sul, Trecho 2, Lote 21 – Brasília/DF. Fone: (61) 3217-6646


Público-alvo: juízes e servidores que atuam na área criminal e de execução penal, nas esferas federal e estadual, secretários de Administração Penitenciária dos Estados, diretores de penitenciárias, agentes penitenciários, membros do Ministério da Saúde, do Ministério Público federal e estadual e profissionais de saúde.


sábado, 22 de junho de 2013

NOTA DO NÚCLEO DE ESTUDOS SOCIOPOLÍTICOS

Consciente de sua responsabilidade neste momento histórico, o Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas e da Arquidiocese de Belo Horizonte (Nesp) observa atento os rumos das manifestações populares que tomaram as ruas do Brasil nos últimos dias.

O movimento social, diferentemente das estruturas hierarquizadas que compõem a sociedade, apresenta à Nação variadas e legítimas reivindicações que precisam ecoar junto aos governos e à classe política, em todos os níveis e de todos os poderes. Para que isso ocorra, há que se criar canais de diálogo e mediação.

Ratificando a nota divulgada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, o Nesp manifesta “solidariedade e apoio às manifestações, desde que pacíficas. Trata-se de um fenômeno que envolve o povo brasileiro e o desperta para uma nova consciência. Requerem atenção e discernimento a fim de que se identifiquem seus valores e limites, sempre em vista à construção da sociedade justa e fraterna que almejamos”.

Cônscios de que a democracia é o mais virtuoso dos regimes políticos, acreditamos na manutenção da ordem democrática e repudiamos quaisquer tentativas extremistas que, ancoradas na violência, na desordem e na instalação do caos, promovam tentativas de interrupção da ordem democrática.

É preciso que as instituições republicanas se adequem às novas modalidades de vocalização das demandas populares, apresentando respostas rápidas e satisfatórias aos clamores de muitos segmentos sociais que, não obstante os avanços alcançados nos últimos tempos, ainda se ressentem de uma cidadania ativa.

Apelamos para que os agentes do Estado, principalmente os operadores da segurança pública, exerçam suas atividades dentro da legalidade, nos marcos do Estado de Direito, garantindo a livre manifestação e agindo sempre dentro da razoabilidade e da proporcionalidade, mesmo em momentos de violência.

Apelamos, ainda, aos manifestantes que respeitem as diferenças, contribuam para o fortalecimento do direito à livre expressão de ideias e comportamentos e que ajam de modo a garantir a presença, nas ruas, de todos os que se interessarem por esta forma de participação política.

Acreditamos que estas manifestações podem sinalizar o “fortalecimento da participação popular nos destinos de nosso país e prenúncio de novos tempos para todos”.

Nesta perspectiva, o Nesp propõe, como pauta unificadora de muitas das demandas sociais, uma reforma política ampla, construída com a efetiva participação dos movimentos sociais e capaz de reestruturar profundamente o sistema político e eleitoral brasileiro.

Belo Horizonte, aos 21 de junho de 2013


Texto:Robson Sávio Reis Souza (via-facebook)

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Bloco na Rua?

Manifestações são legítimas!
Vandalismo não!

É preciso ter capacidade de manifestar pelos seus direitos de forma que a intervenção não se resuma em apenas mais dia em que se coloca o bloco na rua.
É preciso ir além... 
Que essas energias sejam canalizadas positivamente, tornando forças vivas, tendo em vista o aprofundamento de uma democracia participativa...

Precisamos ter cuidado em vários aspectos, pois compreendo que não se muda uma estrutura de um dia para o outro!
Ressalto que a base econômica capitalista que nós sustentamos, nos remete a exploração, concentração da riqueza.... esta desumaniza e consequentemente nos levará ao caos...

QUE O NOSSO GRITO HOJE SEJA POR VIDA!
POR DIREITOS COLETIVOS!
SEJA UM GRITO CONSCIENTE, na certeza de que muitos outros gritos serão necessários...


Ah! NÃO ME VENHA COM ESSA QUE O GIGANTE ACORDOU...
Pois o nobres lutadores nunca dormiram.


Em Ouro Preto participei da manifestação dia 19/06 e agora estou na expectativa que a 

próxima seja melhor, com um discurso bem coerente e forte em defesa do povo e da vida! 

Pois a luta do povo não deve ser só quando dói no bolso. Precisamos ir além, tem muitas 

coisas que precisam ser pautadas! #Avante esse é o caminho!




CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL!




Nos últimos dois meses, o tema da redução da maioridade penal voltou a ocupar destaque na agenda nacional. No Congresso Nacional tramitam inúmeros os projetos propondo a mudança da Constituição Federal (Art. 228), que estabelece a maioridade penal de 18 anos no Brasil, ou mesmo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Com o patrocínio da grande mídia, a pressão é cada vez mais forte e teme-se pelo retrocesso na legislação brasileira.
Desde que foi sancionado, em 1990, o ECA nunca foi digerido por determinados setores da sociedade brasileira, ainda que a crítica mundial o tenha como modelo de lei na defesa dos direitos da criança e do adolescente. Um dos pontos mais questionados é exatamente o que trata do adolescente em conflito com a lei.
A sociedade parece não aceitar que criança e adolescente sejam ‘sujeito de direitos’, como estabelece o ECA, fundamentado na “Doutrina da Proteção Integral”, ao contrário do antigo Código de Menores de 1923, que se baseava na chamada “Doutrina da Situação Irregular”. O ECA nos ensina a olhar para toda criança e adolescente, independente de sua classe social, etnia, sexo, na sua “condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”.
Equivoca-se quem afirma haver impunidade para adolescentes que cometem ato infracional. A responsabilização estabelecida pelo ECA para os autores de ato infracional começa aos 12 anos. Só que a punição se dá por meio das medidas socioeducativas. Isso nem todos dizem. Por quê? Porque acreditam que somente a cadeia resolve o problema da delinquência. Aliás, a maioria da população sequer sabe quantas e quais são estas medidas porque enxerga apenas a prisão como solução para quem comete delitos. Pesquisas mostram a eficácia destas medidas, mesmo considerando que nem sempre o Estado se aparelha adequadamente para sua aplicação. O mesmo não se pode dizer do sistema penitenciário brasileiro.
Outro equívoco nesta discussão da redução da maioridade penal é quanto ao número de crimes, especialmente homicídios, cometidos por adolescentes. A forma como é apresentado na mídia faz parecer que os adolescentes são os grandes responsáveis pela violência no país. Um olhar mais cuidadoso revela o contrário. A juventude é muito mais vítima que causa da violência. O Mapa da Violência mostra que, em 2010, foram assassinados no Brasil 8.686 crianças e adolescentes.
Segundo o Levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei de 2011, havia no país 19.595 adolescentes cumprindo medidas socioeducativas, restritos e privados de liberdade. Isso equivale a 3,8% da população carcerária que, em 2011, era de 514.582 pessoas, segundo o Sistema Integrado de Informações Penitenciárias.
O Conselho Nacional de Justiça, através do relatório “Programa Justiça Jovem”, 2010/2011, traçou o perfil de 1.898 adolescentes em 320 estabelecimentos de internação do país e consultou 14.613 processos nas varas judiciais. Constatou o seguinte: a maioria dos adolescentes é de 15 a 17 anos e abandonou os estudos aos 14 anos, sendo que 89% deles não concluíram o ensino básico; os atos infracionais cometidos por adolescentes privados de liberdade referem-se a: roubo (38,1%), tráfico de drogas (26,6%), contra a vida (11,4%), aí incluídos os casos de tentativas de homicídio.
Outro dado que não se divulga é em relação aos países que, como o Brasil, adotam a maioridade penal aos 18 anos. Pesquisa feita pelo UNICEF revela que, de 53 países (fora o Brasil), 42 adotam a maioridade penal aos 18 anos ou mais.
Alguns argumentam, ainda, que se um adolescente pode votar aos 16 anos, pode também ser preso se cometer um crime. Só se esquecem de dizer, primeiro, que o voto para ele é facultativo; segundo, que ele pode votar, mas não ser votado. Alguém votaria num jovem de 16 anos para ser vereador ou prefeito, deputado ou governador?
A aprovação da redução da maioridade penal seria a admissão da falência do Estado em relação a, pelo menos, duas coisas. Primeiro, quanto à elaboração e aplicação de políticas públicas voltadas para a população infanto-juvenil; segundo, em relação à implementação de forma plena das medidas socioeducativas. É isso que precisamos cobrar do Estado brasileiro.
De acordo com o relatório “Programa Justiça Jovem” do CNJ, dez estados brasileiros atuam acima da sua capacidade para atendimento de medida socioeducativa de internação. O mesmo relatório revela também que grande parte dos estabelecimentos de Atendimento Socioeducativo não tem estrutura adequada (32% não têm enfermarias e 21%, refeitório). Como se não bastasse, o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) não foi devidamente implementado nos estados. Prova disso é a falta de implementação do Plano Individual de Atendimento (PIA) e a constatação de que mais de 81% dos adolescentes infratores não receberam acompanhamento após o cumprimento de medida socioeducativa.
Nesta semana, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e o Conselho Nacional da Juventude (Conjuve) realizaram um grande ato em defesa do Estatuto da Criança e do Adolescente e contra a redução da maioridade penal. Acostumados a ondas a favor da redução da idade penal, os defensores dos direitos da criança e do adolescente se veem, agora, ameaçados por um verdadeiro tsunami, que ameaça um dos artigos da Constituição Federal mais caros às crianças e adolescentes e, portanto, às suas famílias.
Diante disso, é preciso reafirmar o apoio a todos que se unem contra a redução da maioridade penal e na defesa do ECA. São  as crianças e adolescentes que nos perguntam: “será que posso contar com você?”
Pe. Geraldo Martins Dias
Fonte: Nos últimos dois meses, o tema da redução da maioridade penal voltou a ocupar destaque na agenda nacional. No Congresso Nacional tramitam inúmeros os projetos propondo a mudança da Constituição Federal (Art. 228), que estabelece a maioridade penal de 18 anos no Brasil, ou mesmo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Com o patrocínio da grande mídia, a pressão é cada vez mais forte e teme-se pelo retrocesso na legislação brasileira.
Desde que foi sancionado, em 1990, o ECA nunca foi digerido por determinados setores da sociedade brasileira, ainda que a crítica mundial o tenha como modelo de lei na defesa dos direitos da criança e do adolescente. Um dos pontos mais questionados é exatamente o que trata do adolescente em conflito com a lei.
A sociedade parece não aceitar que criança e adolescente sejam ‘sujeito de direitos’, como estabelece o ECA, fundamentado na “Doutrina da Proteção Integral”, ao contrário do antigo Código de Menores de 1923, que se baseava na chamada “Doutrina da Situação Irregular”. O ECA nos ensina a olhar para toda criança e adolescente, independente de sua classe social, etnia, sexo, na sua “condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”.
Equivoca-se quem afirma haver impunidade para adolescentes que cometem ato infracional. A responsabilização estabelecida pelo ECA para os autores de ato infracional começa aos 12 anos. Só que a punição se dá por meio das medidas socioeducativas. Isso nem todos dizem. Por quê? Porque acreditam que somente a cadeia resolve o problema da delinquência. Aliás, a maioria da população sequer sabe quantas e quais são estas medidas porque enxerga apenas a prisão como solução para quem comete delitos. Pesquisas mostram a eficácia destas medidas, mesmo considerando que nem sempre o Estado se aparelha adequadamente para sua aplicação. O mesmo não se pode dizer do sistema penitenciário brasileiro.
Outro equívoco nesta discussão da redução da maioridade penal é quanto ao número de crimes, especialmente homicídios, cometidos por adolescentes. A forma como é apresentado na mídia faz parecer que os adolescentes são os grandes responsáveis pela violência no país. Um olhar mais cuidadoso revela o contrário. A juventude é muito mais vítima que causa da violência. O Mapa da Violência mostra que, em 2010, foram assassinados no Brasil 8.686 crianças e adolescentes.
Segundo o Levantamento Nacional do Atendimento Socioeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei de 2011, havia no país 19.595 adolescentes cumprindo medidas socioeducativas, restritos e privados de liberdade. Isso equivale a 3,8% da população carcerária que, em 2011, era de 514.582 pessoas, segundo o Sistema Integrado de Informações Penitenciárias.
O Conselho Nacional de Justiça, através do relatório “Programa Justiça Jovem”, 2010/2011, traçou o perfil de 1.898 adolescentes em 320 estabelecimentos de internação do país e consultou 14.613 processos nas varas judiciais. Constatou o seguinte: a maioria dos adolescentes é de 15 a 17 anos e abandonou os estudos aos 14 anos, sendo que 89% deles não concluíram o ensino básico; os atos infracionais cometidos por adolescentes privados de liberdade referem-se a: roubo (38,1%), tráfico de drogas (26,6%), contra a vida (11,4%), aí incluídos os casos de tentativas de homicídio.
Outro dado que não se divulga é em relação aos países que, como o Brasil, adotam a maioridade penal aos 18 anos. Pesquisa feita pelo UNICEF revela que, de 53 países (fora o Brasil), 42 adotam a maioridade penal aos 18 anos ou mais.
Alguns argumentam, ainda, que se um adolescente pode votar aos 16 anos, pode também ser preso se cometer um crime. Só se esquecem de dizer, primeiro, que o voto para ele é facultativo; segundo, que ele pode votar, mas não ser votado. Alguém votaria num jovem de 16 anos para ser vereador ou prefeito, deputado ou governador?
A aprovação da redução da maioridade penal seria a admissão da falência do Estado em relação a, pelo menos, duas coisas. Primeiro, quanto à elaboração e aplicação de políticas públicas voltadas para a população infanto-juvenil; segundo, em relação à implementação de forma plena das medidas socioeducativas. É isso que precisamos cobrar do Estado brasileiro.
De acordo com o relatório “Programa Justiça Jovem” do CNJ, dez estados brasileiros atuam acima da sua capacidade para atendimento de medida socioeducativa de internação. O mesmo relatório revela também que grande parte dos estabelecimentos de Atendimento Socioeducativo não tem estrutura adequada (32% não têm enfermarias e 21%, refeitório). Como se não bastasse, o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) não foi devidamente implementado nos estados. Prova disso é a falta de implementação do Plano Individual de Atendimento (PIA) e a constatação de que mais de 81% dos adolescentes infratores não receberam acompanhamento após o cumprimento de medida socioeducativa.
Nesta semana, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e o Conselho Nacional da Juventude (Conjuve) realizaram um grande ato em defesa do Estatuto da Criança e do Adolescente e contra a redução da maioridade penal. Acostumados a ondas a favor da redução da idade penal, os defensores dos direitos da criança e do adolescente se veem, agora, ameaçados por um verdadeiro tsunami, que ameaça um dos artigos da Constituição Federal mais caros às crianças e adolescentes e, portanto, às suas famílias.
Diante disso, é preciso reafirmar o apoio a todos que se unem contra a redução da maioridade penal e na defesa do ECA. São  as crianças e adolescentes que nos perguntam: “será que posso contar com você?”
Pe. Geraldo Martins Dias (Site arqmariana.com.br)