segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Declaração da Arquidiocese de Mariana diante dos impactos da atividade mineradora e industrial


O crescimento da atividade mineradora e industrial em grande parte da região compreendida pela Arquidiocese de Mariana, com suas múltiplas consequências, motiva a presente declaração, por ocasião da celebração do Jubileu do Senhor Bom Jesus, na cidade de Congonhas. Como Pastor desta porção do rebanho de Cristo,  dirijo-me às autoridades, aos empresários e a todos os cidadãos comprometidos com o bem comum, reafirmando, à luz dos princípios éticos e cristãos, a posição da Igreja em defesa da vida, em favor da preservação do meio ambiente e da conservação do nosso patrimônio histórico, artístico, cultural e religioso.
Mesmo reconhecendo o progresso, impulsionado em grande parte pelo avanço científico e tecnológico, que gera emprego, renda e recursos econômicos e financeiros, não podemos desconhecer o risco dos impactos causados à qualidade de vida de nosso povo, ao meio ambiente e à preservação de seu precioso patrimônio. Tais impactos são, muitas vezes, ignorados em nome do desenvolvimento econômico. Em sua encíclica Populorum Progressio, dizia o Papa Paulo VI: “o desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento econômico e, para ser autêntico, deve ser integral, isto é, deve promover o ser humano todo e todos os seres humanos” (cf. PP 14).
O progresso, portanto, deve ser regulado não apenas pelas leis da economia e do mercado, mas também por princípios éticos e morais que permitam um desenvolvimento sustentável, com responsabilidade social. Toda atividade mineradora e industrial deve ter como parâmetro o bem estar da pessoa humana, buscando a superação dos impactos negativos sobre a vida em todas as suas formas e a preservação do planeta, com respeito ao meio ambiente, à biodiversidade e ao uso responsável das riquezas naturais. É preciso empregar todos os esforços para manter viva a natureza, preservar os mananciais e as nascentes, garantir o habitat dos seres vivos e defender as espécies ameaçadas de extinção.  Com sabedoria ensina-nos o Papa João Paulo II: “A programação do desenvolvimento econômico deve considerar atentamente a necessidade de respeitar a integridade e os ritmos da natureza, já que os recursos naturais são limitados e alguns não são renováveis” (cf. SRS, n. 26). Além da defesa do meio ambiente, é de fundamental importância que se garanta o respeito à vida humana em todas as suas dimensões e em todas as suas fases, desde a concepção até o seu término natural, e se promova a “ecologia humana”, conforme a expressão do Papa João Paulo II.
Diante dos grandes investimentos econômicos que transformam várias cidades desta Arquidiocese, os cidadãos, por meio de mecanismos de controle social, como os conselhos municipais, têm direito a reivindicar melhorias sociais e ambientais, a cobrar medidas eficazes que atendam às prioridades defendidas pela comunidade, a exigir que os impostos sejam devidamente aplicados em sua finalidade e a lutar por medidas que garantam o respeito à dignidade de todos, com especial atenção aos trabalhadores e suas famílias. Preocupa-nos, de modo particular, a situação das famílias forçadas a deixarem suas casas e suas terras (às vezes sem receberem indenização justa) ou atraídas pela ilusão do dinheiro da desapropriação. Para defender a vida, medidas urgentes precisam também ser tomadas em relação às condições das rodovias e à segurança no trânsito, especialmente nessa região.
A Igreja Católica é depositária e guardiã de enorme parte do patrimônio histórico e artístico do Brasil, cuja preservação é responsabilidade de todos. Na cidade de Congonhas, a Arquidiocese de Mariana é proprietária de importantes obras reconhecidas pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade, entre as quais se incluem as capelas dos passos, as estátuas dos profetas, o Santuário do Senhor Bom Jesus com seu entorno e a Praça dos Romeiros. A Igreja tem consciência da importância histórica, artística e cultural desse acervo, e reafirma que se trata, antes de tudo, de autêntico patrimônio religioso, expressão de fé daqueles que edificaram esse lugar sagrado, espaço privilegiado de manifestações da devoção e piedade de nosso povo e dos numerosos romeiros vindos de tantas partes de Minas Gerais, de outros Estados e do exterior. A utilização desse espaço não é incompatível com a atividade turística, desde que sejam respeitadas suas finalidades originais e sua destinação religiosa. A Arquidiocese de Mariana, atenta ao desenvolvimento dessa região, reafirma que a atividade industrial e a exploração mineradora devem respeitar esses bens culturais e contribuir para sua conveniente preservação.
Por intercessão de Nossa Senhora da Piedade, Padroeira de Minas Gerais, imploramos ao Senhor Bom Jesus que derrame suas bênçãos sobre todos nós e nos ajude a promover a vida, a preservar o meio ambiente, a proteger o patrimônio histórico, artístico, cultural e religioso de Congonhas e demais municípios desta bela e rica região de nosso Estado, dom de Deus e obra da criação humana.
Congonhas, 14 de setembro de 2012 
Jubileu do Senhor Bom Jesus 
+Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo Metropolitano

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